Por Eguinaldo Hélio de Souza
“…Nesses momentos, seu ódio secreto pelo Grande Irmão se transformava em adoração, e o Grande Irmão parecia crescer, protetor, destemido e invencível, firme como uma rocha contra as hordas (…)
Mas o rosto do Grande Irmão pareceu persistir por vários segundos na tela, como se seu impacto nas pupilas fosse forte demais para se esmaecer tão rápido. A mulherzinha do cabelo cor de areia atirara-se sobre a cadeira que tinha à frente. Com um murmúrio trêmulo que parecia dizer “Meu Salvador”, estendeu os braços para a tela. Depois ocultou a face nas mãos. Era claro que orava.
Nesse momento todo o grupo se pôs a entoar um canto ritmado “Grande Irmão !… Grande Irmão!… Grande Irmão! (…) Era parte de um hino à sabedoria e majestade do Grande Irmão, porém, era mais do que isso, era auto-hipnotismo o afogar deliberado da consciência por meio de um barulho rítmico.” (1984, George Orwell, pp. 18,19,20)
Esta cena parece Ter sido tirada do livro de Apocalipse, mostrando a besta que saiu do mar. A admiração pelo seu poder e sua força (Ap 13.4); a adoração a ela (v.8); sua imagem diante da qual todos se prostram e adoram (v. 15).
Mas o autor, George Orwell, escritor inglês nascido em Bangladesh, não tinha propósitos cristãos. Seus propósitos eram políticos e ele, inspirado nos governos totalitários do nazismo, fascismo e bolchevista (soviético), queria mostrar a monstruosidade que pode gerar o totalitarismo. Quando lemos este livro podemos ter uma ideia do poder e domínio que o homem da iniquidade exercerá sobre a humanidade.