Por Eguinaldo Hélio de Souza
Era uma manhã de janeiro de 1895, na cidade de Paris; mais precisamente no Grande largo da Escola Militar. A multidão se aglomerava ansiosa para assistir a degradação pública do capitão Dreyfuss. Entre a turba se achava um jornalista de Viena chamado Theodor Herzl, um judeu como Dreyfuss buscara se adaptar e assimilar a cultura e a vida do seu país.
Na cerimônia, o Sargento Bouxin, que fazia o papel do carrasco, avançou. Com um gesto seco agarrou na espada do capitão e como uma corda quebra o pescoço do condenado, partiu a lâmina sobre o joelho. A seguir arrancou os galões do oficial.
- Alfred Dreyfuss – declarou – sois indignos de combater pela França.
A assistência agitou-se gritos a clamar vingança.
- Morte ao traidor! Morte aos judeus!
Nas palavras de dois jornalistas modernos, “Esta cena, deveria metamorfosear o jornalista em profeta”. Daquele momento em diante, Theodor Herzl se transformaria em um novo Moisés, a conduzir seu povo à terra prometida. Aquele instante foi suficiente para ele entender que os judeus jamais teriam descanso, enquanto não se tornassem uma nação de fato.
Dentro do seu coração havia um tornado, uma fúria. Não era o mesmo e por causa disto o mundo também não seria. O sonho dos judeus de Ter uma pátria, seria por Herzl transformado em realidade.
Em dois meses ele escreveu um manifesto com cerca de cem páginas. Tinha um nome simples: Die Judenstaat – o Estado Judeu e tornou-se o evangelho do movimento possuirão o seu Estado” – esta era a sua proclamação. Em uma linguagem simples e direta, Herzl reacendia a chama da esperança, no coração daquele povo, que por dois mil anos caminhava entre as nações, intocáveis como óleo em água. As palavras deste jornalista, tiveram o poder de transformar o sonho do renascimento de Israel em algo concreto.
Ao fundar o movimento sionista moderno, ele fez com que um movimento religioso de alguns poucos judeus ortodoxos, se transformasse em possibilidade política para todo um povo disperso entre as nações. Era como a voz de Moisés a proclamar a eles que chegava o momento da libertação, conclamando-os a marchar novamente para a terra prometida. O que ninguém ousara proclamar durante quase 2.000 anos, ele proclamava agora abertamente aos ouvidos das nações incrédula – Israel voltará para sua pátria.
Em Viena, no dia ao realizar o 1º Congresso Sionista, no dia, ele lançou sua profecia:
Na Basiléia criei o Estado Judeu. Daqui a cinco anos talvez e daqui a cinqüenta, com certeza, todos o verão.
Cinqüenta e um anos após Ter sido feita essa incrível afirmação, a criação de Israel foi proposta pelas nações unidas. Theodor Herzl morreu no dia 3 de Julho de 1904, sem ver seu sonho realizado. Mas nem seus sonhos, nem suas palavras morreram. Elas ganharam vida no coração dos judeus, que viviam resignados em seus sofrimentos e agora aprenderam a moldar sua própria vida e tomar o seu futuro em suas próprias mãos.
Seu nome desde então passaria a figurar ao lado dos grandes heróis de Israel e no coração de cada membro do povo judeu. Seu nome estaria junto aos nomes de Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Elias e Samuel. Em Jerusalém, um monte ganharia seu nome. A profecia continua sua marcha inflexível.
“Somos um povo – um só. Em toda parte temos feito esforços sinceros para nos fundirmos na vida social das comunidades circundantes, conservando apenas a fé de nossos pais. Não nos permitem faze-lo. Em vão somos patriotas leais, em alguns lugares nossa lealdade chegando a extremos; em vão fazemos os mesmos sacrifícios de vida e propriedade que nossos concidadãos; em vão nos esforçamos para aumentar a glória de nossas pátrias nas ciências e nas artes, ou sua riqueza com o comércio. Em países onde temos vivido a séculos ainda somos tachados de estrangeiros, e com freqüência por aqueles cujos antepassados ainda não viviam no país onde judeus já haviam tido a experiência de sofrimento…No mundo como é agora, e como provavelmente continuara sendo por muitíssimo tempo, a força precede o direito. E inútil, portanto, sermos patriotas leais, como foram os huguenotes, a quem obrigaram a emigrar. Se apenas nos deixassem em paz…Mas acho que não nos deixarão em paz.”
(Trecho de O Estado Judeu)