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Breve Comentário Sobre o Apocalipse

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

O livro do Apocalipse é um clássico e como todo clássico é mais comentado do que lido. Tem servido de inspiração para diversos livros e filmes e o adjetivo apocalíptico freqüentemente empregado demonstra sua influência. Todavia, a maioria vê nele um conteúdo hermético, cabalístico, oculto, indecifrável.

Sem pretender decifrá-lo definitivamente, alguns conhecimentos prévios ajudam a compreender seu conteúdo. Pelo menos dois pontos precisam ficar claros à qualquer pessoa que pretender entendê-lo.

Primeiramente ele foi escrito por um cristão, o apóstolo João e para cristãos, isto é, as igrejas existentes na Ásia Menor, hoje Turquia. Um não cristão terá muita dificuldade de entendê-lo, principalmente sem uma real experiência com Cristo. Se o remetente e os destinatários tinham este ponto em comum, os estudiosos do livro hoje necessitam também desta condição. Como compreender as expressões “deixaste o teu primeiro amor”; “o Cordeiro que foi morto e reviveu”; “com seu sangue comprou homens de todas as tribos, línguas e nações” ou “bem-aventurados os que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro” sem estar inserido na vivência cristã?

As tentativas não cristãs de compreender o livro tem resultado em desânimo quando não em confusão. Tentativas de aplicar simbolismos não cristãos ao Apocalipse vão resultar em nada. Não se pode tirar o livro de seu contexto histórico.

O segundo ponto a ser levado em conta é que o Apocalipse faz parte de um conjunto maior, que são as Escrituras Sagradas, compostas pelo Antigo Testamento e Novo Testamento. Querer vê-lo como um livro isolado de todo o resto será improdutivo. Para termos idéias, em seus pouco mais de 400 versículos existem 276 referências a diversos livros do Antigo Testamento. Na verdade ele repete profecias e visões que já mencionadas pelos profetas hebreus muitos séculos antes. Além de toda cosmologia e fraseologia em comum com os demais livros do Novo Testamento.

A morte vicária de Cristo, a redenção pelo seu sangue, o retorno de Cristo, a ira divina, a realidade da ação demoníaca, a ressurreição física, o galardão dos salvos, a soberania de Deus e muitos outros temas faziam parte dos textos canônicos. Por isso, não basta conhecer o Apocalipse. É preciso conhecer a Bíblia toda.

Fixados estes dois pontos arriscamos um resumo que norteará as pesquisas posteriores. Precisamos seguir o curso do livro passo a passo, e identificar o seu conteúdo.

O primeiro capítulo é uma apresentação do autor, de suas condições quando recebeu a ordem para escrever, acompanhada de uma visão de Jesus Cristo, agora em seu estado de glória.

No segundo e no terceiro capítulo temos sete cartas, cada uma delas destinada à uma igreja específica localizada em uma cidade asiática. As cidades eram Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Para cada igreja havia uma mensagem, onde situações erradas eram repreendidas, situações louváveis eram elogiadas e promessas eram feitas.

Os próximos dois capítulos trazem a ascensão de João aos céus, onde ele contempla diversos seres divinos. É notável a partir desse ponto o abundante emprego das palavras “como” e “semelhante” dando a entender sua dificuldade em descrever o que estava vendo, uma vez que nem sempre era possível encontrar algo igual no mundo físico.

Do sexto capítulo até o décimo nono temos três séries de sete elementos que dão início a uma série de juízos divinos sobre a terra. São sete selos, sete trombetas e sete taças, cada uma mostrando uma manifestação de ira divina sobre o mundo. Também nesse intervalo surgem personagens como a besta, que apesar da conotação carregada, trata-se de um animal que simboliza um reino, tal como se vê no livro de Daniel. Aliás, a semelhança entre ambos os livros é notável. Também aparece um personagem descrito como Babilônia, que é identificado com uma cidade. Esta seção termina com a manifestação de Cristo, derrotando o anticristo e os demais envolvidos com ele.

Na fase final que vai até o capítulo vinte e dois, Satanás e amarrado e o reino de Cristo é introduzido pela ressurreição dos remidos. Segue-se uma nova investida de Satanás que é solto por um pouco de tempo para ser definitivamente destruído. O próximo passo é o juízo final onde todas as pessoas são julgadas e recebem as devidas conseqüências por seus atos. A vida eterna ou o castigo eterno.

Por esta ocasião, até mesmo a morte e o mundo dos mortos são lançados no chamado Lago de Fogo, como uma demonstração de que a morte e toda sorte de males a ela ligados não mais existem.

Então, um novo universo é criado após a completa destruição do universo então existente. Uma nova ordem de coisas é estabelecido e o mal não mais faz parte do cosmo. O livro se encerra com uma advertência aos seus leitores da brevidade das coisas nele descritos e uma ordem para que o seu conteúdo não seja modificado. A vinda de Cristo está breve para determinar todas essas coisas.

Se outros livros das Escrituras requerem todo um trabalho de pesquisa para uma compreensão clara e exata, o Apocalipse com certeza vai requerer um esforço ainda maior, devido ao seu tom fortemente profético e simbólico. Somente aqueles que têm procurado estudá-lo de forma minuciosa relacionando-o com os demais livros da Bíblia poderão obter algum entendimento seguro. Todos os que se limitam e proclamar suas dificuldades continuarão sem qualquer compreensão coerente e perderão aquilo que esta importante narrativa tem para oferecer.

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