Por: Eguinaldo Hélio de Souza
Embora subtemas possam ser extraídos dos capítulos 9 a 11 da epístola do apóstolo Paulo aos Romanos, o tema central é Israel como nação, como etnia. Isso é bem claro desde os primeiros versículos: a dor no seu coração é pelos seus irmãos, que são seus parentes segundo a carne (v.3).
Abordar esse tema era inevitável, uma vez que o plano de salvação de Deus através da morte e ressurreição de Cristo, o surgimento da Igreja como Corpo de Cristo formado por judeus e gentios, com a tarefa de evangelização mundial, não havia sido bem compreendida pelos apóstolos até a última hora (Atos 1.6-8). Era preciso explicar a situação de Israel diante desses novos fatos.
ISRAEL EM TRÊS TEMPOS
Falando de Israel como etnia eleita para os propósitos eternos, podemos extrair desses capítulos uma linha temporal que abrange o propósito passado, o presente e o futuro.
I – Passado: a glória de Israel
A descendência física de Abraão através de Isaque recebeu alguns privilégios históricos que são aqui expostos na epístola aos Romanos:
são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém! (9.4, 5)
a) Adoção de filhos
b) A presença gloriosa de Deus entre eles
c) As alianças
d) A Lei (o decálogo e as demais leis derivadas)
e) Culto aceitável
f) Promessas inúmeras
g) O Messias
Esses privilégios não foram frutos de merecimento, mas tão somente da vontade de Deus em escolhê-los para diversos propósitos (9.9-18).
II – Presente: endurecimento, salvação dos gentios e remanescente
No curso natural do plano de salvação, Israel, isto é, os judeus como um todo, como nação e etnia, deveria ter abraçado Jesus como o seu Messias, pois era o único povo da terra com esperança messiânica. Só eles tinham conhecimento desse fato. Todavia, não foi isso que aconteceu. Ainda que milhares de judeus tenham abraçado a mensagem do Evangelho (Atos 21.20),
o restante da nação o rejeito. Esse fato é descrito pelo apóstolo Paulo como o “endurecimento” (9.30-33; 10.18-11; 11.7-10)
Esse endurecimento, todavia, foi o caminho usado por Deus para que a salvação chegasse aos gentios, isto é, aos não judeus. Assim como o fato de José ter sido rejeitado por seus irmãos redundou em redenção para os egípcios, o fato dos judeus terem rejeitado Jesus como seu Messias, fez com que o Evangelho chegasse até nós (11.11, 12, 15)
Entretanto, esse endurecimento foi apenas parcial (11.25). Na verdade, aqui nessa porção Paulo expõe a doutrina do remanescente, isto é, judeus que são crentes verdadeiros. Mesmo nas épocas de grande apostasia, sempre houve um remanescente fiel (11.1-5) e esse remanescente fiel são os judeus salvos durante esse período da Igreja, do Pentecostes até os dias de hoje.
III – O futuro: reconciliação, plenitude e exaltação
Paulo fala abundantemente da restauração de Israel: chama essa restauração de plenitude (11.12); chama de admissão e diz que ela trará vida dentre os mortos (11.15); na parábola da oliveira ele anuncia que voltarão a ser enxertados (11.24)
E em 11.25-29 temos uma ampla revelação da futura salvação de Israel como nação, baseado na eleição divina e na aliança de Deus com os patriarcas. Esta passagem está em harmonia plena com Zacarias 12.10 e com o fato de José, ao final, ter se reconciliado com seus irmãos. (Gênesis 45)
Essa plenitude, essa readmissão de Israel se harmoniza com as promessas divinas de um Israel exaltado no Milênio futuro (Zacarias 8.23; Isaías 60.10-14)
Não entendemos tudo. Muita coisa permanece mistério (11.33-36). O que não é mistério e se torna bem claro aqui é que Deus os dons e vocação de Deus são irrevogáveis e que Israel permanece “amado por causa dos patriarcas” (11.28,29)