Por Eguinaldo Hélio de Souza
Contemplar o futuro que se delineia na perspectiva bíblica é de certo modo olhar para o passado. Para ser ainda mais exato, caminhar em direção ao futuro prometido por Deus equivale a desejar aquele passado que foi corrompido pelas quedas, angélica e humana. O futuro será tão glorioso como já foi um dia, mas essa glória torna-se ainda mais perceptível quando contrastada com nosso atual estado de coisas. Pecado, corrupção, mal e morte entraram no Universo, tornando-o algo bem diferente do “muito bom” (Gênesis 1.31) criado por Deus. Por isso, o futuro será o que já foi um dia e o que sempre deveria ter sido.
Não é à toa que são grandes as semelhanças e contrastes entre o primeiro e o último livro das Escrituras. Enquanto um descreve como tudo era o outro descreve como voltará a ser. O futuro escatológico é a restauração do passado longínquo. É o banimento de todo o mal que penetrou na perfeita criação de Deus, distorcendo-a e fazendo do cosmo esse lugar enigmático, onde a grandeza, o maravilhoso, o sublime e o esplêndido convivem com a morte, a corrupção, o mal, o tenebroso e o absurdo.
Mas no princípio não foi assim (Mateus 19.8), disse Jesus. A humanidade convive há tanto tempo com um estado de coisas decaído e corrupto que não consegue imaginar como poderia ser diferente. O mal está há tanto tempo conosco que terminamos por acreditar que ele é um hóspede por direito e quando na verdade ele é um invasor indesejado. O que chamamos natural é em grande parte antinatural. O normal só é normal dentro desta nossa anormalidade.
Achamos que a rebelião do homem contra Deus em pensamentos, palavras e obras é aceitável quando na verdade reflete uma condição de existência inconcebível. Deus é Senhor absoluto sobre tudo e o fato Dele ter criado seres livres não significa que a rebeldia é normal. A liberdade não foi dada aos seres para que dela se utilizassem para se rebelar. Foi dada para que reconhecessem Sua soberania e o obedecessem com amor e reverência. Normal é a submissão de todas as coisas ao Criador. Normal é toda língua no céu, na terra e embaixo da terra confessar que Jesus é o Senhor para a glória de Deus Pai (Filipenses 2.10,11), normal é Deus ser tudo em todos (1 Coríntios 15.28). O futuro será tão normal quanto o passado já foi um dia. O que vivemos hoje deixa-nos perplexos porque no fundo sabemos que não deveria ser assim.
Logo, caminhamos em direção a um futuro que na verdade é a restauração do passado. É a restauração de todas as coisas (Atos 3.21), de que falou o apóstolo Pedro. Pessoas que rejeitam a existência de um Deus bom por causa dos absurdos deste mundo precisam saber que concordamos com elas. Vivemos no absurdo e no inadmissível. E por isso abraçamos a redenção divina que já começou em Cristo e se tornará tangível no porvir.
Quando ansiamos por um novo céu e uma nova terra nos quais habita a justiça (2 Pedro 3.13) estamos reconhecendo que há algo errado com estes no qual vivemos. Reflete uma revolta contra o hoje e um reconhecimento que ele não deveria ser assim. Nosso olhar para o novo céu e para a nova terra demonstra nossa recusa para este atual céu e esta atual terra. Pois nos
recusamos a aceitar que o Deus Todo Poderoso e Todo Sábio que foi capaz de criar este Universo o faria para ser desta forma. Nada é como deveria ser.
No entanto, acreditamos que o Criador também é o Redentor. E que Ele, através da morte e ressurreição de Cristo restabeleceu todas as coisas. E esta visão das coisas restauradas é que nos dão esperança. A Nova Criação começou no Cristo e ressurreto. E porque Ele ressuscitou então nós podemos ter esperança e podemos crer no futuro glorioso que nos aguarda.
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo. (1 Pedro 1.3-5)