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Porque Creio no Reino Milenar

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Nem todos acreditam em um reino messiânico terrestre que durará mil anos. Mesmo grupos cristãos sérios e bíblicos olham com incredulidade esse ponto da escatologia. Quando lêem Apocalipse 20.1-6 procuram fugir de qualquer entendimento literal, tentando identificar esse período com o atual tempo da Igreja [amilenistas] ou algum tempo com condições especiais dentro da Era Cristã [pós-milenistas]. Isso difere dos pré-milenistas que entendem ser um período distinto, de duração exata de mil anos, no qual a Igreja, juntamente com Cristo, reinará na terra.

Como em qualquer questão de linha teológica não basta dizer o que eu creio. Tenho de dizer porque eu creio. Tenho que responder com mansidão e temor a qualquer que perguntar pela razão da esperança que há em mim (1 Pedro 3.15). Tenho que estar convencido pela Palavra de Deus do contrário não poderei convencer a ninguém. Tenho que estar seguro no meu próprio entendimento (Romanos 14.5), ainda que outros irmãos discordem.

E por fim, tenho que questionar: Porque eu acredito no Reino de mil anos a ser implantado por Cristo neste mundo? Em que partes das Escrituras eu me apoio? Que problemas vejo em tentar interpretar passagens bíblicas de outra maneira?

Responder a essas questões de modo bíblico, racional e coerente pode ajudar outros a se posicionar adequadamente, adquirindo confiança em sua fé. Serão minhas razões porque eu creio no milênio.

1. O Antigo Testamento fala amplamente do reino terreno do Messias

Não são poucas as passagens que falam do reino messiânico no Antigo Testamento. Pelo contrário, o reino messiânico era a esperança de Israel. O fato do reino não ter se concretizado na primeira vinda do Messias, não espiritualizou o evento, apenas o tornou conhecido entre os gentios, para que fosse consumado em sua segunda vinda. Entre as muitas passagens, citemos apenas duas entre várias.

Salmo 72 – Temos aqui um governo do Messias que abrange o mundo todo, de mar a mar (v. 8). Esse governo abrange todas as nações (v. 11). E este governo será duradouro, abrangendo várias gerações (v. 17). É óbvio que nunca tivemos tal situação, nem geográfica, nem historicamente falando. Por maior que seja a influência do cristianismo. O domínio de Cristo neste mundo é sustentado apenas por um grupo limitado de seguidores, enquanto a maioria dos habitantes da terra permanece alheia ou hostil a Cristo. Como disse o autor da epístola aos Hebreus, mas agora, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas (Hb 2.8)

Zacarias 14 – O reino messiânico é claramente identificado com a segunda vinda (v. 5). Seu domínio universal é proclamado (v. 9). Os versos 16 a 19 mostram uma condição do reinado messiânico que nunca existiu na história. É um reinado real e não espiritual

Temos que admitir que as tentativas de fazer cumprir tais profecias na Igreja, produziram o papado medieval, onde as nações tinham de prestar honras ao “vicarius Dei”. A espiritualização e alegorização com a finalidade de ajustar essas profecias à presente era, nada mais fez do que roubar a glória que só pertence ao Messias.

2. Os apóstolos e primeiros cristãos, sendo de origem judaica, só poderiam esperar um reino dessa natureza

Não podemos negar que houve ruptura entre aspectos do Antigo Testamento e aspectos do Novo Testamento. Todavia, a existência de rupturas, não significa a ausência de continuidades. Se esse fosse o caso, tudo teria de ser rejeitado. As Escrituras referidas por Jesus e os apóstolos era o que hoje chamamos de “Antigo Testamento” e eles a trataram com o devido respeito.

3. O Novo Testamento sanciona um reino de Cristo sobre a terra, juntamente com sua Igreja

Que a Igreja vai reinar, isso é evidente no Novo Testamento (1 Co 4.8; 2 Tm 2.12), descrito como um evento futuro. E o Apocalipse deixa claro que não se trata da mera autoridade espiritual que o cristão tem em Cristo ou algum governo exercido pelos salvos durante o período intermediário da morte. Eles “reinarão sobre a terra” (Apoc 5.10), o que indica um evento futuro e terreno. O que se harmoniza com Daniel 7.21-27, onde o anticristo é derrotado e o Messias com seus santos reinará.

Além do mais, a ideia de um reino de Cristo por mil anos, juntamente com os salvos, entre a primeira ressurreição (dos salvos) e a ressurreição dos perdidos, é a única forma razoável de entender Apocalipse 20.1-7.

4. Até o meio do século III, e crença no reino messiânico era predominante na Igreja

Embora depois de Niceia o conceito de um reino terreno com a duração de mil anos tenha entrado em um ocaso, isso só aconteceu devido ao exagero de milenaristas ou quiliastas (quilo = mil) e devido a certo rancor direcionado aos judeus. Como escreveu Philip Schaff, historiador do cristianismo:

O ponto mais marcante da escatologia da era pré-nicena é a proeminência do quiliasmo, ou milenarismo, que é a crença num reinado visível de Cristo em glória na terra com os santos ressurretos por mil anos, antes da ressurreição geral e do juízo. Essa certamente não foi a doutrina da igreja incorporada a algum credo ou forma de devoção, sendo antes uma posição amplamente aceita por mestres ilustres1

O reino milenar, literal e terrestre de Cristo é uma clara doutrina das Escrituras. Alguns pensam que ele é apenas uma citação obscura do livro do final do livro do Apocalipse. A passagem apenas informa a durabilidade desse reina e o situa cronologicamente no plano escatológico. A revelação sobre o assunto é clara nos Salmos, nos profetas e em todo o Novo Testamento. É claro que a nossa mente não consegue conceber com exatidão como será esse reino. Ainda assim é uma clara revelação das Escrituras e portanto, objeto da nossa fé.

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1 PENTECOST, Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 2006

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