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Deus, Escritura, Profecia e Escatologia

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

O elemento preditivo é onipresente nas Escrituras. Até mesmo em afirmações simples como Mateus 26.13, ele está presente. O texto de Gênesis 3.15, chamado de “proto evangelho” é uma das primeiras predições sobre a vinda do Messias. A expressão “últimos dias” (acharit-hayamim em hebraico) se encontra tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. A primeira menção dessa palavra está em Gênesis 49.1, quando em sua bênção sobre seus doze filhos, Jacó faz uma série de predições, inclusive indicando Judá como a linhagem real e mesmo messiânica.

A profecia bíblica e mesmo a as Escrituras como um todo, sem dúvida alguma contém inúmeros elementos preditivos que se foram realizando dentro do próprio conteúdo histórico das Escrituras, mas também muitos que se tornaram concretos na história.

Não apenas por meio de palavras (como as declarações proféticas), como também por meio de ritos e mesmo acontecimentos, o futuro foi antecipado. No sacrifício de Isaque temos um prenúncio factual do sacrifício do Deus Filho. No cordeiro pascal durante a saída do Egito temos elementos preditivos dos efeitos da morte expiatória de Cristo. O mesmo se pode dizer dos muitos sacrifícios prescritos no código levítico.

Logo, por definição generalizada, uma profecia é uma revelação oral ou escrita, em palavras humanas e através dum porta-voz humano, transmitindo a revelação de Deus e esclarecendo aos homens Sua divina vontade. Num sentido mais amplo, até eventos como a travessia do mar Vermelho ou o episódio da serpente de bronze, podem ter um significado profético, sendo que sua importância não se esgota na ocorrência histórica propriamente dita. Prenunciam um cumprimento na época do Messias, seu antítipo. As ordenanças do tabernáculo e do sacerdócio estavam repletas de significado profético, pois muitas vezes incluíam tipificações que prefiguravam a Pessoa e a obra de Jesus Cristo. Nesta classificação podem ser incluídos o sacerdócio de Arão, o próprio tabernáculo, os vários artigos de móveis que continha, os rituais do sacrifício, e assim por diante. Neste sentido mais amplo, portanto, uma grande parte do Antigo Testamento constitui profecia; mas no sentido menos amplo, limita-se o termo aos discursos de homens especialmente escolhidos e ungidos para ocupar o ofício profético.

A profecia hebraica selava a qualidade autorizada da mensagem de Deus, quando a profecia se cumpria de maneira inquestionável. Assim, há em Deuteronômio 18 uma prova da veracidade do profeta: o que predizia tinha de ser cumprido..As vezes esse cumprimento se verificaria dentro de um período breve, como no caso do capitão incrédulo de 2 Reis 7, que riu da profecia de Eliseu que disse que o preço da farinha baixaria a uma simples fração dos preços do período de escassez que imperavam e isto dentro de 24 horas. Noutras ocasiões, o cumprimento se daria em um futuro distante, que estaria além da experiência da geração que vivia quando a profecia foi pronunciada. Naturalmente, o benefício seria só para as eras futuras; mesmo assim, as circunstâncias exigiam este tipo de confirmação. “Eis que as primeiras predições já se cumpriram e nos coisas eu vos anuncio; e antes que sucedam, eu vo-las farei ouvir” (Isaías 42.9). “Quem há como eu, feito predições desde que estabeleci o povo mais antigo? Que o declare e o exponha perante mim!

Esse que anuncia as coisas futuras e as coisas que hão de vir! Não vos assombreis, nem temais; acaso desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois minhas testemunhas” (Isaías 44.7, 8). Esta última declaração se vinculava a uma declaração de que os judeus seriam libertados por Ciro, acontecimento que somente após 150 anos se cumpriria. Muitas e muitas vezes surge a frase, especialmente em Jeremias e Ezequiel, enquanto profetizam sobre acontecimentos futuros: “E saberão que eu sou o Senhor” (isto é, o Deus de Israel que guarda a Sua aliança). Este conhecimento viria aos observadores depois que os julgamentos profetizados acontecerem aos ofensores ameaçados nas profecias.

Todos reconheciam que tal cumprimento de profecias futuras ofereceria evidências objetivas que não seriam passíveis de qualquer outra explicação, senão que o mesmo Deus que revelava a profecia aos seus servos era o Deus da História que operaria o cumprimento da profecia. Perceberam corretamente, que qualquer outra explicação que se procurasse dar, envolveria uma entrega do raciocínio humano a uma exigência autoritária da parte do racionalista dogmático, que sua posição, logicamente insustentável, seja aceita por uma fé cega.

Dessa forma, a profecia bíblica gera a escatologia. Os eventos históricos cumpridos, sancionam os eventos históricos não cumpridos. E o registro inspirado de todas as predições divinas tornam as Escrituras o único livro autorizado a falar com segurança sobre o futuro.

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