Por Jamierson Oliveira
Dando prosseguimento ao nosso objetivo de apresentar aos leitores os articulistas e os consultores do ICP por meio desta seção, a entrevista que segue é com o pastor Eguinaldo Hélio de Souza, do Ministério Evangélico Esperança. É também editor e escritor do Jornal das Últimas Coisas, cujo perfil editorial é analisar os fatos atuais relacionados às profecias bíblicas escatológicas. Estudante de jornalismo e um dos mais dedicados apologistas desse Instituto, suas colaborações freqüentes na Defesa da Fé (matérias e estudos brilhantes) têm causado forte impacto. Seu último trabalho, “Nove idéias erradas sobre anjos” (edição de julho/03), foi recordista de manifestações positivas dos leitores. Que seja sempre assim!
Defesa da Fé – Por que o estudo sobre escatologia bíblica é tão evitado?
Eguinaldo Hélio – Creio que seja pelo fato de as Escrituras falarem tanto sobre o assunto. A teologia, desde o século XIX, tem procurado elaborar sistemas teológicos coerentes e o resultado disso foi um trabalho de qualidade e de quantidade. Ou seja, muita coisa foi escrita e isso assusta os estudantes da Bíblia.
Defesa da Fé – Segundo as Escrituras, estamos, agora, mais perto dos eventos apocalípticos do que quando aceitamos a fé? Que evidência há desses fatos?
EH – Não podemos nos esquecer de que a promessa da volta de Cristo já tem quase dois mil anos. Somado a isso, temos a questão do retorno do Israel étnico à terra prometida e a questão do quadro profético de Mateus 24, que já se cumpriu ou está se cumprindo, inclusive a propagação do evangelho por todas as nações. Hoje, temos tecnologias e tendências que possibilitariam a existência de uma condição política-econômica-religiosa, conforme descrita em Apocalipse, o que, sem dúvida, nos ajuda a compreender melhor a escatologia bíblica. Nossos irmãos do passado não puderam contar com esses avanços e tendências.
Defesa da Fé – Até que ponto podemos crer nos eventos futuros?
EH – Do mesmo modo que cremos nos primeiros eventos, que se cumpriram com a primeira vinda de Cristo. Se as inúmeras profecias sobre o seu nascimento se cumpriram, as restantes (que falam sobre o seu retorno), também hão de se cumprir. É importante termos em mente que, com as profecias sobre a volta de Cristo, a Era Vindoura invadiu a Presente Era. Como cristãos, já provamos os poderes do mundo vindouro em Cristo (Hb 6.5). Estamos apenas aguardando a consumação da promessa que o próprio Jesus fez aos que crêem.
Defesa da Fé – Muitas profecias bíblicas pareciam estúpidas quanto à possibilidade de se concretizar. E hoje?
EH – Hoje, com os seus cumprimentos, elas dissipam todas as dúvidas. O renascimento de Israel como nação, em 1948, é um bom exemplo. A Igreja, de uma forma geral, havia excluído o papel de um Israel étnico dentro do plano divino. Agora, isso já não é mais possível, já que é uma realidade. Podemos, ainda, nos referir aos avanços tecnológicos, que têm controlado o mundo econômico, político e religioso, conforme Apocalipse 13. Ou à União Européia, que vislumbra, pelo menos em parte, o renascimento do poderio romano. Embora uma coisa ou outra possa ser questionada pelos mais críticos, não se pode, porém, negar que o aspecto preditivo das Escrituras tem sido ressaltado pelos fatos da história presente.
Defesa da Fé – Será que não existe o risco de a pessoa que estuda sobre previsões se parecer muito com os agoureiros de plantão?
EH – Com certeza. Nós, do ICP, sabemos quantas distorções existiram e ainda existem nesta área, tanto por parte de grupos já conhecidos, como TJs, Adventistas e Mórmons, quanto por parte de pequenos grupos que surgem aqui e ali fazendo previsões. O remédio contra o falso não é o silêncio, mas a pregação do verdadeiro. Não podemos deixar o futuro nas mãos de especuladores, que exaltam Nostradamus e aparições de Fátima acima das Escrituras. A Bíblia é um livro que fala do futuro, e Deus levantou alguns mestres justamente para esclarecer o seu povo e o mundo.
Defesa da Fé – Por que não há consenso entre as denominações sobre a doutrina das últimas coisas?
EH – Isso não é verdade. Há mais consenso do que se imagina, especialmente nas questões principais. Nos detalhes, porém, digamos que há diversidade, não divergência. Quem conhece a história da igreja sabe que as grandes doutrinas hoje aceitas por unanimidade foram debatidas por décadas, ou por séculos, até se chegar a definições mais exatas e aceitações mais amplas quanto aos detalhes. Com escatologia não é diferente. Acho que a Igreja está no caminho certo
Defesa da Fé – Fale resumidamente sobre cada uma dessas correntes de interpretação?
EH – Os pós-milenistas (que atualmente são raros) vêem a igreja como transformadora do mundo, instaurando o cristianismo ou sua influência no mundo todo. Depois disso, Cristo virá. Mas o milênio, para os pós-milenistas, não significa mil anos literais. Os amilenistas não crêem que Cristo governará na terra por mil anos. E os pré-milenistas, a grande maioria dos cristãos brasileiros e os mais fundamentalistas, crêem que Cristo voltará e instaurará um governo de mil anos na terra, juntamente com sua igreja. Os pré-milenistas crêem também em um período de domínio do anticristo, denominado de Grande Tribulação. Aqui há aqueles que crêem que a Igreja passará pela grande tribulação (pós-tribulacionistas) e os que crêem que Cristo virá arrebatar sua Igreja antes disso (pré-tribulacionistas).
Defesa da Fé – Para os amilenistas, especialmente, o que evidencia então a brevidade da vinda de Cristo?
EH – Eles comungam com os pré-milenistas em uma visão pessimista do mundo. O pecado e suas características negativas, conforme descrito em Mateus 24, tem-se alastrado no mundo, o que resultará no fim de todas as coisas.
Defesa da Fé – Existem pontos em comum relevantes para a ortodoxia cristã no meio dessas vertentes escatológicas?
EH – Diversos, como, por exemplo, a ressurreição, o juízo final, o reino de Deus como algo presente e futuro ao mesmo tempo, a vinda corpórea de Cristo e a impossibilidade de definição de datas, entre outros. Os detalhes, como em todas as ciências, podem sofrer variação de opiniões sem, contudo, invalidar sua utilidade.
Defesa da Fé – Como construir uma apologia escatológica cristã diante dessa diversidade doutrinária?
EH – Há questões, por exemplo, como a vinda corporal de Cristo (e não espiritual, como alguns pregam) e a imprevisibilidade do evento (não se pode estabelecer datas), que são fatores aceitos por unanimidade. As seitas normalmente se desviam nesses pontos. Além disso, outros assuntos, como, por exemplo, reino de Deus e ressurreição dos mortos, possuem muito material escriturístico, com o qual se pode trabalhar para rebater heresias sem cair em um dogmatismo prejudicial à unidade da igreja.
Defesa da Fé – Essa organização sistematizada da escatologia é algo mais recente, não? A igreja dos primeiros séculos já pensava dessa forma?
EH – Sim, é algo recente. Até porque a igreja trabalhou com outras doutrinas no decorrer de sua história. Só nos dois últimos séculos tem-se voltado para a escatologia.
Defesa da Fé – Como o senhor avalia o absoluto e o relativo, “escatologicamente” falando?
EH – Como em qualquer ramo do conhecimento, você precisa ter argumentos para sustentar suas afirmações. Quem tiver maior número de argumentos e argumentos mais sólidos ganhará credibilidade. O mesmo ocorre com quem conseguir responder, com mais segurança, às dúvidas levantadas. Ário não conseguiu vencer com sua cristologia (que fazia de Jesus mera criatura) porque seus oponentes tinham mais e melhores argumentos bíblicos para sustentar suas afirmações e, com isso, podiam responder com mais segurança às objeções de Ário.
Defesa da Fé – Podemos afirmar que a maioria das seitas surgiu porque seus líderes se desviaram da verdadeira interpretação da escatologia bíblica?
EH – Nem todas, embora a escatologia esteja na raiz das principais seitas.
Defesa da Fé – Astrólogos, tarólogos, buziólogos, cartomantes e outros adivinhos e esotéricos exercem grande influência em nossa sociedade. Por quê?
EH – É aqui que a igreja deve cumprir o seu papel, porque as pessoas têm anseios quanto ao futuro do mundo e de si mesmas, e merecem receber uma resposta bíblica por parte da verdadeira igreja que, muitas vezes, não corresponde. Então, as seitas e os hereges procuram satisfazer os anseios das pessoas, mas de forma distorcida, levando-as a atos inconseqüentes. As testemunhas-de-jeová, por exemplo, fizeram que milhares de pessoas deixassem seus empregos e vendessem seus bens, a fim de doarem à organização. O fato ocorreu em 1975. Isso, no entanto, não significa que a Igreja de Cristo tem a obrigação de responder aos anseios e curiosidades individuais quanto ao futuro. A Bíblia nos dá apenas um horizonte a respeito do fim da História em termos universais.
Defesa da Fé – Como o estudo da escatologia bíblica pode ajudar o cristão em sua fé?
EH – Por saber que a sua fé não está alienada do mundo, antes, está relacionada ao dia-a-dia, baseada nos acontecimentos que podem ser verificados nos livros de história e nos jornais. A pergunta: “Para onde vamos?” também é respondida pela Bíblia, não apenas para o indivíduo, mas para toda a humanidade.