Revista Show da Fé Ano 8 nº 97
ISRAEL, HOJE E SEMPRE
Estudioso de Escatologia fala da importância da nação israelense para o cumprimento das profecias bíblicas acerca do fim dos tempos.
Elidi Miranda
Quando ainda era adolescente e recém-convertido ao Evangelho, Eguinaldo Hélio de Souza começou a interessar-se por uma das áreas mais espinhosas do saber teológico: Escatologia, também chamada de doutrina das últimas coisas, por se tratar do estudo das profecias acerca da Segunda Vinda de Cristo ao mundo e dos acontecimentos referentes e este grandioso evento. Desde então, vem pesquisando incessantemente sobre o assunto, já escreveu inúmeros artigos sobre o tema para revistas cristãs e perdeu a conta de palestras que ministrou em centenas de igrejas.
Hoje aos 37 anos de idade e pastor da Igreja Ministério Evangélico Esperança, fundada por ele em São Vicente(SP), na Baixada Santista, decidiu reunir parte desse conhecimento no livro Israel, Povo Escolhido – 16 verdades bíblicas que o ajudarão a entender a importância desse povo, lançado recentemente pela editora Vale da Benção. O objetivo da obra, como diz o próprio título, é auxiliar na compreensão da visão bíblica sobre o povo de Israel, tanto nos tempos bíblicos quanto ao longo da história, bem como seu papel no quadro profético previsto na Bíblia para o futuro da humanidade. “O objetivo é expor o que cremos a respeito de Israel e por que cremos assim”. Nesta entrevista, o Pr. Eguinaldo compartilha um pouco dessa visão com os leitores de Graça/Show da Fé:
SF – Os acontecimentos envolvendo o Estado de Israel costumam ter repercussão mundial. Isso tem alguma coisa a ver com o cumprimento das profecias bíblicas?
EHS - Só a presença diária de Israel na mídia e na agenda política do mundo é algo para despertar, no mínimo, curiosidade e espanto. Isso porque se trata de um povo cuja existência se tentou apagar da História por tantas vezes, e, no entanto, Israel não apenas subsiste, como se destaca.
SF – Qual deve ser a postura do cristão em relação ao povo judeu hoje?
EHS – O cristão não deve achar que tudo o que Israel faz como nação está certo e tem aprovação divina. Afinal, embora não achemos corretos todos os atos dos cristãos, nem por isso deixamos de reconhecer a Igreja de Cristo como instrumento de Deus. Também não devemos nos tornar judeus, pois não o somos. Assim como no Concílio de Jerusalém, narrado em Atos 15, foi decidido que um gentio não precisava se tornar judeu para ser salvo, agora é da mesma forma. Devemos, porém, orar por Israel e amá-lo, como preconiza o Salmo 122.6, que diz: Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão aqueles que te amam. Devemos ajuda-los materialmente, se possível (Rm 15.25-27), desejar a salvação deles (Rm 10.1) e crer no cumprimento de Romanos 11.26: E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades.
SF – Que importância teve Israel no cenário do Antigo Testamento?
EHS – Israel foi testemunha de Deus naquele período, segundo Isaías 43.10 (Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR). Assim, os hebreus proclamavam a féem um Deus único em meio às nações idólatras da época.
SF – Logo, Israel foi uma testemunha de Deus?
EHS – Exatamente. E este testemunho hoje é responsabilidade da Igreja, de acordo com I Pedro 2.9: Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daqueles que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
SF – Mas costuma-se dizer que Israel ainda é o povo escolhido, mesmo nos dias de hoje. O que o senhor pensa disso?
EHS – A questão é: povo escolhido para quê? Nós, a igreja do Senhor, somos pessoas de diversas nacionalidades escolhidas para a salvação, Israel foi uma nação escolhida, em primeiro lugar; para ser portadora inicial da revelação divina, das promessas, da Lei, das alianças e do Messias. Em segundo lugar, para ser a nação representante do reino messiânico futuro, quando Jerusalém irá tornar-se de fato a cidade do grande Rei, como mostram diversos textos – dentre os quais Mateus 5.35. Entretanto, o judeu, como qualquer ser humano sobre a Terra, necessita receber Jesus como Salvador para ter a salvação. Ele precisa ser um eleito para ela, como nós somos. Todavia, a nação, como um todo, tem outros propósitos de Deus a cumprir.
SF – Quais são esses propósitos?
EHS – O apóstolo Paulo fala em 2 Tessalonicenses, no capítulo 2, sobre o templo onde o anticristo vai se assentar querendo parecer Deus. É uma referência ao Templo de Jerusalém, que existia na época – e esse texto tem uma relação direta com a abominação da desolação profetizada por Daniel (Dn.11.31)e repetida pelo Senhor Jesus em seu sermão profético, conforme Mateus 24.15. A Bíblia fala ainda de uma “conversão nacional”, quando todo Israel será salvo (Rm 11.15,26); diz que Jerusalém seria pisada pelos gentios somente até que o tempo deles fosse cumprido (Lc.21.24) e afirma que o retorno de Jesus se dará em Jerusalém(Zacarias 14). Essas e outras profecias não poderiam ser cumpridas sem uma existência literal de Israel. Quando este ressurgiu na família das nações, em 1948, tornou-se um cumprimento literal de Isaías 66.8. Seu renascimento estava predito em inúmeras passagens dos profetas, como, por exemplo, em Ezequiel 37.27-29.
SF – Muitos estudiosos argumentam que as profecias do Antigo Testamento referentes à restauração de Israel como nação já se cumpriram nos dias de Esdras. Essa afirmativa pode ser refutada biblicamente?
EHS – Alguém poderia, da mesma forma, alegar que a profecia de Daniel 9.27 (E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador) cumpriu-se por meio de Antíoco Epifânio, o conquistador que profanou, no ano 170 a.C., o Templo de Jerusalém. Todavia, Jesus falou de um cumprimento posterior a essa profecia, em Mateus 24.15. Se o fato de os judeus terem retornado à sua terra no tempo de Esdras esgotasse o cumprimento profético desse texto, então, passagens como Amós 9.15: (E os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei) seriam falsas profecias – afinal, depois disso, eles tornaram a ser arrancados de sua terra, no ano 70 da Era Cristã. É muito estranho termos na Bíblia profecias falando do retorno dos judeus à Terra Prometida, mencionando a restauração de Israel como nação, e, quando isso acontece de fato, dizemos que não há ligação alguma entre a promessa das Escrituras e o evento histórico que corresponde a este fato. É bom lembrar que muitas dessas promessas são incondicionais. Ou seja: não foi imposta condição alguma da parte de Deus para que viessem a acontecer. Passagens como jeremias 31.37 são bastante significativas neste sentido: Assim disse o SENHOR: Se puderem ser medidos os céus para cima, e sondados os fundamentos da terra para baixo, também eu rejeitarei toda a semente de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o SENHOR.
SF – O que o crente deve pensar, então, quando olha para Israel?
EHS – Que o tempo está mais próximo do que nunca. Sempre tivemos guerras, fomes, terremotos, falsos cristos – mas nunca, antes, tivemos um Israel renascido como prova do cumprimento das milenares profecias bíblicas.