Por Eguinaldo Hélio de Souza
Alguns se espantam ao ouvir que um cristão não pode concordar com o marxismo, seja ele chamado de socialismo, comunismo, progressismo ou qualquer outro termo. O discurso social presente nessas ideologias serve para encobrir conceitos, preceitos, preconceitos e pressupostos anticristãos existentes nele. Desde a década de 1960, a estratégia gramscista introduzida no Brasil desenvolveu o que chamamos de marxismo cultural. Essa estratégia busca substituir a cultura ocidental fundada em pressupostos judaico-cristãos por uma cultura socialista. Somente depois da transformação cultural se poderia implantar a “ditadura do proletariado”.
Durante esse processo, os espaços destinados à educação e à cultura, devem ser ocupados pelos chamados intelectuais marxistas, que introduzirão desde o topo as ideias e os conceitos com a finalidade de alterar as mentalidades. Essa é a razão porque no meio acadêmico pode ser percebido hoje uma “hegemonia da esquerda”1. Esse predomínio marxista se espalha desde a cultura do homem comum até as casas legislativas, onde há uma preocupação desproporcional no sentido de criar leis para minorias que se chocam com a moral e a cosmovisão cristã da população.
O processo de transformação cultural vai chocar-se em vários pontos e em vários momentos com valores e conceitos cristãos. As formas utilizadas pelo marxismo cultural para lidar com o cristianismo são as mais variadas. Em alguns momentos agredirá os conceitos cristãos. Em outros, agirá de forma enganosa, seduzindo os cristãos, levando-os a crer que possuem os mesmos propósitos. E haverá ainda ocasiões nas quais procurará criar uma síntese impossível entre teologia cristã e marxismo, como já aconteceu no Evangelho Social e hoje acontece na Teologia da Libertação, na Teologia da Missão Integral e nos movimentos cristãos “progressistas em geral”.
Os que acreditam na possibilidade de unir as duas cosmovisões, com certeza desconhecem as duas ou são movidos por motivos escusos. Essa impossibilidade era bem clara quando os comunistas simplesmente torturavam e matavam cristãos. Quando alteraram sua estratégia de conquista, deixaram a muitos confusos e fizeram morrer as verdades reveladas desde suas raízes.
É preciso que cada cristão compreenda que o marxismo, não apenas pelos seus atos, mas por sua essência, é inimigo do cristianismo, mesmo quando o acaricia. Os pressupostos do marxismo cultural colidem de frente com os pressupostos cristãos.
Andarão dois juntos se não estiverem de acordo? (Amós 3.3)
Pressupostos
Pressupostos são verdades fundamentais aceitas sem qualquer prova empírica (experimental), porquanto o conhecimento começa à base dessas verdades fundamentais.2 Toda religião e ideologia tem seus próprios pressupostos, verdades que ele aceita antes de qualquer prova.
Todavia, é bom lembrar que o cristianismo tira seus pressupostos da revelação. O que crê sobre Deus e seus atos são derivados das Escrituras reveladas. Razão e revelação caminham juntas no cristianismo. Já o marxismo tomou para si os pressupostos do materialismo ou naturalismo, para o qual “o cosmo é tudo o que existe ou sempre existiu ou sempre será”, como definiu Carl Sagan, astrofísico e apresentador do programa Cosmos.3
Se os pressupostos são verdades fundamentais que servem de base para as religiões e ideologias, é imprescindível conhecer os fundamentos do cristianismo e do marxismo, para então compará-los. Depois disso, torna-se fácil perceber a incompatibilidade entre eles e a loucura que é a tentativa de fazer de ambos, simultaneamente, os fundamentos de suas crenças e ações.
Pressupostos cristãos
Deus existe. Ele criou todas as coisas para a sua glória e dentro de seus propósitos. Criou o homem, coroa da criação, à sua imagem, homem que está acima dos animais e seu propósito é glorificar a Deus. O homem desobedeceu a ordem direta de Deus e por isso tanto sua própria natureza como a natureza ao seu redor foram afetadas. Seus relacionamentos com Deus e com outros foram corrompidos. Tornou-se alienado de Deus pelo seu pecado e por isso a encarnação, morte e ressurreição de Jesus tornaram-se necessárias para redimi-lo. A salvação foi consumada em Cristo e será concretizada por Deus no futuro quando o poder da ressurreição de Jesus manifestar-se nos remidos e em toda a nova criação. Esses são pressupostos revelados que estão na base de todo pensamento cristão.
Temos no cristianismo verdades essenciais que o diferenciam de qualquer religião e ideologia.
Pressupostos marxistas
Para um marxista, não existe um Deus, nem alma humana, nem qualquer ser espiritual, pois tudo o que existe é a matéria e tudo o mais é o movimento da matéria (materialismo dialético). O homem evoluiu à partir dos símios como resultado do trabalho e o grande problema da humanidade é a propriedade privada. Esse problema será resolvido através da ditadura do proletariado, quando a classe trabalhadora tomar o poder, banir o capitalismo com todas as suas injustiças e implantar o comunismo em todo mundo. O ser humano é apenas um ser social. Tudo o que ele é deriva da sociedade e suas relações com ela. A redenção do mundo virá com a vitória do comunismo mundial.
O choque inevitável
Dois bicudos não se beijam. E dois absolutos também não. O marxismo nunca se apresentou como uma proposta política e sim como um messianismo redentor destinado a transformar o mundo em um paraíso social. Ele jamais pode conviver pacificamente com o cristianismo, por isso derramou o sangue cristão ou procurou perverter seus ensinos e sua moral. O choque é inevitável.
As diferenças não estão nas superfícies ou nas periferias. Estão nas raízes e nas bases. E o pacifismo cristão, seja ele verbal ou físico, faz dele uma vítima inocente
diante da agressividade marxista, tanto verbal quanto física. Se o cristianismo continuar cego diante da real natureza do marxismo cultural será facilmente derrotado por ele. Devemos amar nossos inimigos, sem jamais confundi-los com os amigos.