Por Eguinaldo Hélio de Souza
Falando da situação de Evangelho no mundo, as perspectivas para a Europa são assustadoras. Basta ler o pensamento do líder Líbio, Muamar Kadafi, expresso há algum tempo atrás: “Há sinais de que Alá garantirá vitória na Europa sem espadas, sem armas, sem conquistas. Não precisamos de terroristas ou homens bombas homicidas. Os mais de 50 milhões de muçulmanos na Europa a transformarão em um continente islâmico em poucas décadas.”
É uma previsão sinistra se pensarmos na contribuição cristã da Europa para o mundo. Mesmo que não se torne realidade, a simples possibilidade de tal fato traz preocupação e nos leva à pergunta de como isso pode acontecer em uma região que foi celeiro de líderes, missionários, e avivamentos. O Evangelho partiu de Jerusalém, mas foi a partir da Europa que ele alcançou o mundo, em ondas sucessivas, quer de compreensão, quer de divulgação, quer de fortalecimento da Palavra.
Desde os homens e movimentos santos de Deus no continente europeu à atual islamização, insere-se uma teologia destrutiva, que longe de servir para estruturar a fé cristã, funcionou como uma osteoporose, tornando doente o edifício todo do cristianismo. Essa má teologia foi como uma podridão nos ossos. Ao invés da profecia que transforma ossos secos em exércitos, a erudição incrédula fez das hostes santas, ossos ressequidos.
Os avivalistas sempre criticaram a ortodoxia morta. Todavia, existe algo pior do que isso. É a destruição da própria ortodoxia. Quando a teologia liberal surgiu minando os alicerces da própria fé cristã, era evidente que seu resultado inevitável seria um cristianismo fraco e decadente.
A verdade é que um cristianismo forte é impossível sem uma teologia forte. Quando ao invés de tornar a verdade bíblica mais clara ela a obscurece, então a teologia está prestando um desserviço. A “teologia” de alguns eruditos incrédulos foi ao longo do tempo produzindo cristãos e líderes de quinta categoria, duvidosos de suas crenças, incapazes de despertar nos homens a rendição a Deus e de resistir ao secularismo crescente.
Nomes como Friederich Schleiermacher (1768 – 1834), Albrecht Ritschl e Adolf Harnack (1851 – 1930) são nomes ligados a essa teologia liberal, morta e mortífera, que ao invés de sustentáculo intelectual da fé, significou seu ocaso. Uma exposição resumida do pensamento de Schleiermacher tornará evidente esse fato: “A Bíblia, declarou [Schleiermacher], não é a autoridade absoluta, mas o registro das experiências religiosas das comunidades cristãs primitivas; portanto não fornece um padrão para as tentativas contemporâneas de interpretar a relevância de Jesus Cristo para as circunstâncias históricas específicas. Ela não é sobrenaturalmente inspirada e infalível.”1
A ideia dessa teologia era que as verdades bíblicas eram incompatíveis com o pensamento científico da época e, portanto, eram insustentáveis. Ao negar a validade das Escrituras Sagradas como única fonte autorizada de revelação divina, todas as afirmações a respeito da salvação, de Deus, de Jesus, tornaram-se descartáveis, sendo substituídas por noções estranhas a fé dos apóstolos e do cristianismo histórico.
Até mesmo um homem brilhante como Albert Schweitzer (1875 – 1965), apesar de toda sua abnegação cristã, tinha conceitos imensamente distantes daqueles ensinados na Palavra de Deus, como um resultado dessa teologia liberal.
“A vinda de Jesus seria um acontecimento surpreendente, envolvendo distúrbios cósmicos. A chegada do reino seria um clímax absoluto – não uma passagem gradual – e transformaria radicalmente as circunstâncias e o caráter humano. Segundo Schweitzer, Jesus acreditava nisso e era o que ele ensinava, – mas, é claro, Jesus estava errado.2
Se a Bíblia nada tinha de infalível, Jesus também não tinha. Ele não era “a verdade”, nem mesmo um revelador da verdade, apenas alguém com suas crenças, por sinal, ilusórias. Que tipo de cristianismo poderia produzir uma tal teologia? Com certeza, não uma teologia capaz de fazer frente a algo como o islamismo.
A invasão muçulmana é o resultado óbvio de uma cidade derrubada que não possui muros. A fé dos muçulmanos em suas crenças contrasta com a pouca confiança dos “cristãos” na Bíblia. Enquanto os teólogos relativizaram as verdades cristãs, o mundo muçulmano trabalhou para fortalecer suas crenças. Essa é uma das razões da atual situação. Jamais os que relativizam as verdades bíblicas poderão resistir aos que absolutizam seus enganos religiosos.
É impossível ler este texto do “teólogo” alemão Bruno Bauer (1809 – 1882) sem sentir um frio na espinha. O Mal também trabalha para perverter a intelectualidade humana, mesmo a que se diga a serviço de Deus.
Vejamos o que Bruno Bauer escreveu em 6 de dezembro de 1841 a seu amigo Arnold Ruge, que também foi amigo de Marx e Engels: “Faço conferências aqui na Universidade ante uma grande audiência. Não reconheço a mim mesmo, quando pronuncio minhas blasfêmias do púlpito. Elas são tão grandes, que estas crianças, a quem ninguém deveria escandalizar, ficam com os cabelos em pé. Enquanto profiro as blasfêmias, lembro-me de como trabalho piedosamente em casa, escrevendo uma apologia das Sagradas Escrituras e do Apocalipse. De qualquer modo, é um demônio muito cruel que se apossa de mim, sempre que subo ao púlpito, e eu sou forçado a render-me a ele (…) Meu espírito de blasfêmia somente será saciado se estiver autorizado a pregar abertamente como professor do sistema ateísta.3
O grande problema é confundir verdade com erudição, considerar que porque alguém é culto, todas as suas afirmações são verdadeiras. Um erudito sem novo nascimento, sem temor do Senhor e sem vida com Deus, vale tanto quanto um homem-bomba. Perece levando muitos consigo. Tal como os fariseus da antiguidade, esses eruditos fecham a porta do Reino, não entram e não deixam ninguém entrar. Assim foram, infelizmente, muitos notórios teólogos.
“O senhor ora?”, perguntou-se a determinado teólogo no final de sua vida. “Eu medito”, foi a resposta. Por que ele não orava? Não acreditava no Deus que respondeu a oração de Abraão, de Isaque, de Jacó? Não era capaz de ter um relacionamento com a Divindade, tal como Moisés, Josué, Samuel, Davi e os profetas? O conhecimento da verdade tem seu padrão na piedade (Tt 1.1). Um teólogo que não ora, dificilmente será um bom teólogo.
A erudição com certeza é necessária, até mesmo indispensável. Contudo, sozinha não basta. Uma teologia que negue ao invés de afirmar não nos trará nada de bom. A mente humana, dentro de suas limitações desse nosso mundo caído, só pode tornar-se um canal das verdades divinas quando ajudada pelo Espírito Santo. Não pode produzir por si mesma qualquer verdade salvadora.
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Notas
1OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001. p. 560.
2ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.Pp. 30, 31.
3Marx-Engels, edição completa de crítica e história, Casa Publicadora ME Verlagsgesellschaft, Frankfurt a. Main, 1927, vol. I, 1. In: WURMBRAND, Richard. Era Karl Marx um satanista? A Voz dos Mártires, p.25