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Uma Fé Chamada Ateísmo

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Dos artigos que escrevi nenhum foi mais debochado, agredido e atacado do que um texto sobre ateísmo. “A insensatez dos que não creem espalhou-se pela internet”, inclusive em sites ateus e não evangélicos. Os comentários deixados por alguns ateus não poderiam ser publicados aqui. Palavrões e termos pejorativos não faltaram, xingamentos dos mais variados. Infelizmente, até blasfêmias foram escritas. E em meio a tudo isso, alguém debochou da expressão “ateu militante”, como se isso fosse um absurdo. O fato é que o ateísmo está se tornando cada vez mais militante.

Uma afirmação comum dos ateus é dizer que a religião produziu muitas guerras e muitas mortes. Minha resposta usual é que o ateísmo comunista produziu ainda mais guerras e mortes. Sistemas políticos como o nazismo e o fascismo também produziram as maiores carnificinas da história e nem por isso se fala em acabar com a política. A resposta dos ateus para isso é que o fascismo e o comunismo em vez de serem críticos à religião, na realidade, eram parecidos demais com elas.

A verdade é que o ateísmo atual vai pouco a pouco se tornando uma religião ou pelo menos uma versão quase idêntica, com exceção de não prometer nenhuma “religação” (lat. religare) com Deus. A militância ateísta tem atingido patamares nunca existentes. Mesmo o ateísmo marxista era um acessório, enquanto o ateísmo atual possui uma finalidade em si mesmo.

O ateísmo já conta com grandes “evangelistas” como Richard Dawkins, que realiza uma verdadeira “cruzada” em sua defesa. Escrever livros sobre o tema, criar organizações ateístas para angariar fundos para sua causa, tornar-se palestrante mundial sobre o assunto e fixar mensagens ateístas em ônibus não parece diferir muito da ação dos movimentos religiosos. Isto é o que Dawkins tem feito. Afirmar que “Deus é um delírio: um ‘delinquente psicótico’ inventado por pessoas loucas e iludidas”1 não difere muito de uma confissão de fé. Além disso, ele diz ter quase certeza de que Deus não existe e que um mundo sem fé em Deus seria muito melhor. Esse é seu evangelho e sua escatologia.

E não para por aí de forma alguma. Com uma pequena busca na internet você descobrirá que já existem igrejas ateístas. Mais um pouco de pesquisa e encontrará acampamento para ateus, além da “bíblia do ateu” e, por fim, ficará sabendo que existe até uma cerimônia ateísta chamada de “desbatismo”.

“Um líder ateísta ‘desbatizou’ dezenas de seguidores não crentes usando no ritual um secador de cabelo. Com o aparelho, simbolicamente, ele retirou toda a água lançada na cabeça durante o batismo tradicional. A cerimônia ‘desreligiosa’ foi exibida no popular programa Nightline, da rede ABC, nos EUA.”

“Edwin Kagin, responsável pelo ‘desbatismo’, disse acreditar que os pais cometem um grande erro ao deixar as crianças serem batizadas sem que elas tenham idade para entender o que está se passando. O líder ateísta, criado em família presbiteriana, chega a afirmar que alguns casos de educação religiosa deveriam ser punidos por ‘abuso infantil’”. Ele classifica a sua ‘anticruzada’ como uma ‘guerra civil religiosa americana’. Formado em Direito, ele percorre os EUA defendendo suas ideias.” (Globo.com, 24/08/2010).

Também há ateus proclamando sua mensagem com o texto “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Neste caso, a verdade seria o ateísmo que estaria libertando o ser humano dos males da religião. Muitos sites ateístas também têm procurado divulgar pesquisas e estatísticas apresentando a diminuição da crença religiosa no mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos. Independente da análise que possamos fazer dessas pesquisas, a questão é que os ateus estão mais e mais preocupados com assuntos até pouco tempo presentes apenas nas crenças religiosas.

Essas atitudes demonstram que o ateísmo está se tornando cada vez mais parecido com uma religião. Há uma preocupação dos ateus em fazer apologética de suas afirmações, em “fortalecer sua fé”, se assim podemos dizer. Essa atitude confirma a afirmação de Phillip Johnson, de que “aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto específico de crenças é, na verdade, um verdadeiro crente em outro conjunto de crenças.”2 Não é difícil aplicar isso ao atual ateísmo militante. Ele não está interessado apenas em não crer em Deus, mas em justificar porque não crê e em convencer a outros que a vida será melhor se as pessoas também não crerem. E isso muitas vezes com mais convicção e fervor que muitos chamados crentes.

Não é minha intenção aqui refutar o ateísmo, apenas tentar revelar um pouco de sua natureza. Se Dawkins e outros grandes líderes do ateísmo militante acreditam que sua mensagem não oferece qualquer perigo, ou estão enganados ou são enganadores. Eles não podem oferecer qualquer garantia de que seu movimento será sempre pacífico e coerente. Marx e Nietzsche talvez ficassem horrorizados com as consequências de seu pensamento inflexível. Ambos acreditavam no bem supremo que derivaria de suas ideias, mas não foi bem isso que aconteceu.

“Dawkins nega o lado mais sombrio do ateísmo, o que o torna um crítico da religião menos confiável. Possui uma fé fervorosa e inquestionável na bondade universal do ateísmo, que ele recusa a sujeitar a um exame crítico. (…) A verdade dos fatos é que os seres humanos são capazes tanto de violência quanto de excelência moral – e que ambos podem ser provocados por visões de mundo, religiosas ou não.”3

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Notas

1. DAWKINS, Richard. Deus, um delírio, p. 64.

2. GEISLER, Norman. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2004.

3. MCGRATH, Alister. O delírio de Dawkins. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.

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