Por Eguinaldo Hélio de Souza
Sim, eu gostaria que não existisse o inferno. Se eu pudesse eu apagaria das Escrituras todas as referências à geena, ao lago de fogo, ao inferno. Todas as dezesseis vezes em que Jesus usou a palavra, eu queria fazer desaparecer. A ideia de um lugar onde as pessoas passarão a eternidade sofrendo longe de Deus é dura demais para o meu coração.
Meu desejo é matar o bicho que não morre e apagar o fogo que não se apaga (Marcos 9.44, 46, 48). É fazer cessar a fumaça de seu tormento que sobe pelos séculos dos séculos (Apocalipse 14.11). É dar descanso aos que não descansarão nem de dia e nem de noite (Apocalipse 14.11). É livrar as pessoas da vergonha e do desprezo eterno (Daniel 12.2)
Não permitiria ali nenhuma pessoa, nem mesmo Hitler, Calígula ou Nero. Nem o estuprador, nem o torturador, nem mesmo os maiores tiranos carniceiros da história deveriam ter o inferno como destino. Nem mesmo aquelas pessoas que blasfemam de Deus descaradamente, como aquele “artista” que pôs um crucifixo dentro de um balde de xixi. Não, não. Eu gostaria de fechar definitivamente o inferno e não deixar ninguém entrar lá. Nem satanistas, nem blasfemos, nem pedófilos. Nem Satanás e seus demônios.
Por que deveria existir o inferno? Para que castigo? Para que condenação? Só por desobedecer às leis divinas? Não acho justo.
Se não posso apaga-lo, pelo menos gostaria de torna-lo um pouco mais brando, mais suave. Ao invés da eternidade, ele deveria ser somente uma câmara de incineração. Ou pelo menos extinguir em algum momento os que para ali foram lançados. Pelos séculos dos séculos é inaceitável.
Sim, eu queria apagar o inferno, extingui-lo, anulá-lo, aniquilá-lo. Suprimir todas as citações dele nas Escrituras. Queria, mas não posso.
Claro que tudo isso é ironia.
Não fui eu quem o criou. Não fui eu quem o inventou. Aliás, não fui eu quem criou o Universo, nem o inferno e nem sequer fui eu quem inspirou a Bíblia. Não fiz leis e não determinei castigos. E também não tenho poder para lançar ninguém nele. Não sou eu que determino nada nem no céu nem na terra e Aquele que determina é muito mais sábio, santo e justo do que eu.
Mesmo que eu negasse o inferno, mesmo que eu proclamasse aos quatro ventos a sua inexistência, nem assim eu poderia apaga-lo. Ainda que eu nem sempre compreenda sua natureza isso não o torna uma inverdade, não o faz mais brando, não anula as Escrituras. Ainda que todos os teólogos do mundo se unam e o anulem ao seu bel prazer, o inferno permanecerá inferno. Letras e opiniões não anulam a realidade, muito menos o que Deus é e faz.
Todavia, há algo que posso fazer. Posso proclamar ao mundo que Deus não quer ali o homem. Tanto não quer que enviou seu Filho para levar sobre si nossos pecados e culpas. Tanto ele não quer que se eu crer nele, não entrarei em condenação, mas passarei da morte para vida.
Posso não aceitar, posso descrer, posso desdenhar do inferno. Posso distorcer as Escrituras. Posso questionar quem e porque alguém vai para lá. Só não posso negar que esse é o ensino da Bíblia e a única porta de escape é Jesus Cristo.