Por Eguinaldo Hélio de Souza
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem Deus o criou, macho e fêmea os criou”.
O mundo tem de conviver hoje com duas afirmações conflitantes: a Palavra de Deus (que ensina que o homem fora criado por Deus conforme a sua imagem e semelhança) e a afirmação de Charles Darwin (que diz que a origem do deu-se por um lento processo de evolução, indo das formas mais simples às mais complexas, tornando o homem no que é hoje).
Na época de Darwin, suas teorias causaram grandes conflitos religiosos. Os debates calorosos entre a ciência e a religião chegaram a provocar mortes. De ambos os lados da disputa, homens de mentes brilhantes tentavam, a seu modo, provar a veracidade de sua crença. Mas hoje, quase 150 anos após a publicação do livro “Origem das espécies por meio de seleção natural” ou “A preservação de raças favorecidas na luta pela vida” (1859), temos condições de avaliar, de forma mais exata, os efeitos dessas idéias. Neste artigo, não temos a intenção de denunciar a falta de base científica da evolução, mas, sim, analisar em que ponto a visão darwiniana sobre a vida entra em choque com as afirmações bíblicas e os resultados decorrentes dessas afirmações.
DETERMINISMO BIOLÓGICO
Determinismo biológico é a idéia que afirma que todo agir humano é determinado por fatores inerentes à sua natureza. Ou seja, que todas as suas vontades e ações não são livres (no sentido de uma escolha racional e espontânea), mas, sim, o resultado de mecanismos biológicos. Enquanto a Bíblia ensina que ao homem cabe escolher suas ações, tornando-se responsável por tudo o que faz (como podemos ver em certos textos: “Manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem…” (Is 7.15-16). Ou: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente” (Dt 30.19), a teoria da evolução forneceu ao homem uma justificativa para o seu procedimento. Ao invés de ver no pecado uma distorção do propósito inicial de Deus, enxerga certos comportamentos como resultado da herança animal, uma força sobre a qual os homens não têm domínio nem escolha.
A edição especial da revista “Veja” (Dez/2000) publicou o artigo do professor de fisiologia da Universidade da Califórnia, Jared Diamond, a respeito do comportamento sexual humano. A revista resume assim a tese do dr. Jared: “Diamond sustenta a tese polêmica de que o comportamento sexual humano… não vai mudar muito no futuro” . Segundo ele, as pessoas carregam esse determinismo em seus genes. Por mais que a vida se tome mais rica tecnologicamente e as sociedades mudem com o passar dos anos, “as pessoas tendem a se comportar no campo sexual com base nas experiências evolutivas acumulada pela espécie”.
Então, de repente, o adultério não pode mais ser explicado como desvio da vontade divina, como corrupção da natureza humana, mas como herança animal evolutiva. O ser humano passa a ter uma justificativa biológica para o seu comportamento infiel, baseado em fatores determinados em seus genes, resultado daquilo que o professor Jared denominou “condicionamento evolutivo” que determina “a imutabilidade do comportamento dos seres humanos”. Hoje, não o adultério e violência podem ser explicados como sendo uma herança animal, ou seja, seqüelas advindas da época em que os homens grunhiam e rosnavam.
Segundo o famoso cientista Carl Segan, em artigo publicado na revista “Superlnteressante”, o nosso comportamento no esporte, mesmo o mais violento, está relacionado aos nossos genes. Diz ele: “Mas, se a nossa paixão pelo esporte (violento) é tão profunda e tão difundida, é possível que esteja arraigada em nós, não em nosso cérebro, mas em nossos genes”.
Ao relacionar tudo aquilo que chamamos de pecado com herança genética, a ciência tem levado o mundo a justificar todos os tipos de pecado e a aceitar como normais comportamentos que levam os homens para longe de Deus, precipitando-os na perdição eterna. Até mesmo os homossexuais buscam no reino animal exemplos dessa prática para justificar seu comportamento corrompido. Mais do que isso, movimentos gays já se aproveitam da genética para convencer as pessoas que desejam ingressar nesse caminho de que não se trata de uma questão de escolha individual, mas de determinisno genético. Ou seja, “sou homossexual porque nasci assim”.
O ativista dos direitos dos gays e neurocientista Simon Le Vay, do Salk Institute de La Jolla (Califórnia/EUA), provocou manchetes internacionais em 1991 ao declarar que uma certa área do cérebro tendia a ser menor em homossexuais masculinos do que em heterossexuais. Apesar de Le Vay ter sido cauteloso em interpretar seus resultados, ele sugeriu que, tendo em vista que essa área específica do cérebro poderia ser intimamente relacionada com o comportamento sexual, ela poderia afetar a orientação sexual. Le Vay autopsiou o cérebro de 19 homossexuais, 16 heterossexuais e 6 mulheres. A parte do cérebro que Simon Le Vay informou ser menor em homens homossexuais, conhecida como o terceiro núcleo intersticial do hipotálamo anterior (INAH 3), é de tamanho mais próximo ao da área correspondente em cérebros de mulheres. Há muitos outros estudos examinando os fatores genéticos e biológicos relacionados com o homossexualismo”.
O próprio professor Simon Le Vay faz questão de não ser definitivo em suas conclusões, mas sua atitude reflete a tendência moderna de querer justificar a homossexualidade como uma atitude determinada por fatores outros que não a rebelião humana contra Deus e seus padrões. Mas o apóstolo Paulo revela em sua epístola aos Romanos os caminhos da apostasia humana, tais caminhos são escolhidos pelo próprio homem e não determinados por uma herança animal.
Paulo diz o seguinte: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus pela mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
Pelo que Deus abandonou as paixões infames. Porque até as mulheres mudaram o uso natural, no contrario à natureza (as mulheres mudaram, não os genes determinaram). E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmo a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram em ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios de toda iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e a mãe; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que a fazem” (Rm 1.18-32).
MORALISMO DARWINISTA
A Moralidade e a ética também não deixaram de sofrer influência do darwinismo. Sua teoria da Evolução é baseada na sobrevivência do mais apto, ou seja, os mais fortes e hábeis sobrevivem, os mais fracos perecem. Surge então Friederich Nietzsche transformando a biologia darwiniana em filosofia. Como disse o historiador Will Durante, “Nietzsche era filho de Darwin… Se a vida é uma luta pela existência, na qual os mais capazes sobrevivem, então a luta é a virtude máxima, e a fraqueza, o único defeito. Bom é aquilo que sobrevive, que vence; mau é aquilo que fracassa – assim pensava Nietzsche”. Logo, para esse filósofo, a moralidade cristã, exaltando a humildade, a misericórdia, o altruísmo e o amor, era na verdade fraqueza, que ia de encontro a verdadeira lei da vida, isto é, a evolução da espécie pela sobrevivência do mais apto.
Com base nesse pensamento, Nietzsche nutriu um ódio muito grande contra o cristianismo. E escreveu que “… o cristianismo foi até agora a maior desgraça da humanidade”. Segundo sua maneira de pensar “… nesta batalha que chamamos vida, precisamos não de bondade, mas de força, não de humildade, mas de orgulho, não de altruísmo, mas de inteligência resoluta; igualdade e democracia são contrarias a natureza da seleção e da sobrevivência; o poder, e não a justiça, é o verdadeiro árbitro todas as diferenças e de todos os destinos”.
Certamente ninguém foi tão longe em sua rejeição ao cristianismo. Essa visão filosófica da existência desenvolveu nesse filho e neto de pastor sentimentos tão negros e profundos que legou ao mundo literário verdadeiro tratado de guerra contra Deus. Nietzsche é o filósofo dos satanistas, constantemente citado por eles como defesa de sua absurda opção. A seguir, parte de um diálogo travado com um satanista, na qual ele apóia sua posições em um dos aforismos do filósofo:
“Dessa forma, podemos entender o satanismo como o governo do homem para si próprio, a não subordinação a nenhum poder, fim da humildade compulsória, não aceitação da mortalha de fraqueza. É por isso que os filósofos satanistas se baseiam no filósofo alemão Nietzsche. Para poder dizer não a tudo o que representa na terra o movimento ascendente da vida (a boa constituição física, a potência, a beleza, a afirmação de si mesmo) o instinto do ressentimento que aqui se tornou gênio teve de enfrentar um outro mundo, a partir do qual essa afirmação da vida aparece como o mal em si. Assim, o homem do ressentimento travesti sua impotência em bondade, a baixeza temerosa em humildade, a submissão aos que teme em obediência, o não poder vingar-se em não querer vingar-se”.
“Nietzsche vê o domínio da bondade como o falso domínio dos fracos. E podemos acreditar que Lúcifer pretende apenas libertar o homem desse domínio de fraqueza”.
Em 30 de setembro de 1888, Nietzsche concluiu seu livro intitulado “o anticristo”. Mas o anticristo não era qualquer personagem histórica por vir. O autor usava esse titulo para referir-se a si mesmo. E encerra seu livro com proposições de como acabar com o cristianismo sobre a terra: “Guerra moral contra o vício: o vício é o cristianismo”.
Vejamos algumas passagens do referido livro:
(…)
“Segunda proposição: Toda participação a um serviço religioso é um atentado à moralidade pública. Deve-se agir com mais rigor contra os protestantes do que contra os católicos…”
(…)
“Terceira proposição: O solo amaldiçoado onde o cristianismo chocou seus ovos de basilisco deve ser destruído pedra por pedra, tornando-se o lugar mais infame da terra, o terror de toda posteridade. Deve-se criar cobras venenosas nesse lugar”.
(…)
“Sexta proposição: Deve-se chamar a sagrada história pelo nome que ela merece, de história maldita. Deve-se usar as palavras Deus, terra da promissão, redentor e santos como xingamentos, como apelidos de criminosos”.
Se por um lado a teoria de Darwin forneceu aos ateus uma base para negar a necessidade de um Criador para o universo, por outro proporcionou a Nietzsche, e a todos os seus futuros seguidores, os princípios de uma moralidade não-cristã, baseada no ódio, no egoísmo, na força, completamente satânica em seus fundamentos. Isto lhe parecia óbvio diante das colocações de Darwin. Sua conclusão lógica era de que, se Darwin tinha razão, o cristianismo não, e a sociedade tinha até então se erguido sobre bases insustentáveis. Ele criticava os pensadores de seu tempo, dizendo que a teoria da evolução os tornara ateus, mas eles continuavam sendo cristãos.
Com Friederich Nietzsche se cumpriu mais uma vez a descrição bíblica da corrupção da mente humana que transforma a sabedoria em loucura: “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.21-22).
SOB SOMBRAS DO NAZISMO
Nietzsche transformou a biologia de Darwin em uma perversa filosofia. Hitler transformou a filosofia de Nietzsche em uma cruel política. Não existem dúvidas de que a filosofia nietzscheniana teve grande influência sobre o nazismo. O pensamento de Hitler era contaminado com a idéia de superioridade da raça. Destruir seis milhões de judeus era um aperfeiçoamento da raça humana. Era, como eles denominavam, uma “limpeza étnica”, removendo do caminho da evolução humana elementos menos aptos que estavam impedindo essa evolução. Para Hitler, ele estava abrindo o caminho para o “super-homem”, mito criado por Nietzsche uma espécie e novo estágio da evolução darwiniana.
Quase podemos ouvir os ecos da biologia de Darwin e da filosofia de Nietzsche nas palavras de Hitler ao antigo presidente do Senado nacional-socialista de Dantzig, Herman Rauschning: “Temos de criar uma técnica de despovoação. Se você me perguntar o que eu entendo por despovoação, dir-lhe-ei que prevejo a liquidação de unidades raciais, e fálo-ei, pois que vejo nela, a traços largos, a minha missão fundamental. A natureza é cruel e, por este motivo, também nós poderemos ser cruéis. Se eu mando a flor e a nata do povo alemão para uma guerra sem me lamentar, em nenhum momento, o derramamento do valioso sangue alemão no inferno da guerra, também tenho o direito de destruir milhões de homens de raças inferiores que se multiplicam como parasitas”.
Ainda dentro dessa linha de pensamento, a política nazista desenvolveu o que foi chamado de “Programa Eutanásico”, que visava eliminar, por meio de uma morte indolor, os doentes mentais incuráveis. Essa idéia foi proposta por Hitler em 1939 e sancionada em 1940 por lei. Cerca de trinta mil doentes mentais ficam exterminados. O alvo era de cem a cento e trinta mil pessoas. Foi difícil para o governo explicar para as famílias o desaparecimento ou a morte repentina de todos esses doentes. A polícia secreta tentava de todos os modos evitar que os comentários da população se espalhassem, mas foi impossível evitar. Mesmo assim “… As carnificinas nestes institutos foram continuadas durante anos por ordem das leis secretas promulgadas por Frick, Himmler e outros”.
Aos olhos da teoria da evolução das espécies, esses atos foram apenas conseqüências biológicas da sobrevivência dos mais aptos. Aos olhos do autor de “Assim falou Zaratustra” e “O anticristo”, essas decisões não eram certas nem erradas, são apenas conseqüência da vida, pois o mais forte deve realmente eliminar o mais fraco.
LIÇÕES DA HISTÓRIA
É claro que todas essas conseqüências (e muitas outras para as quais infelizmente não temos espaço suficiente aqui para apresentá-las), não eram intenções de Charles Darwin. Ele não almejava defender o ateísmo, divulgar uma moralidade satânica, justificar a morte de milhões de pessoas ou o extermínio de doentes mentais. Mas é impossível não ver suas rias como o germe de todas esse acontecimentos.
Diante de tudo isso, podemos verbas sérias conseqüências de um falso ensino. A mentira, por si só, é destruidora. Uma idéia errada pode precipitar ares em um abismo sem-fim. Uma mentira será sempre prejudicial, seja ela religiosa, filosófica ou biológica.
Não importa quantos defensores a mentira possua, quantas vezes tenha sido proclamada ou quantos argumentos a sustentam, ela corroerá e produzirá males para a nossa vida e o nosso mundo. E ponto final! Ficamos com as palavras de João: “Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade. Estas coisas vos escrevo acerca que querem enganar” (1Jo 2.21,26).
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Notas:
1 Revista Veja Edição Especial. Ano 33 nº 52 ( 27 de Dezembro de 2000 ). Artigo do Professor Jared Diamond “Por que eles perdem a cabeça?”.
2 Revista Veja Edição Especial. Ano 33 nº 52 ( 27 de Dezembro de 2000 ). Artigo do Professor Jared Diamond “Por que eles perdem a cabeça?”.
3 Revista Superinterssante: Artigo de Carl Segan “Da Flecha a Bola”. Nº 8. Ano 2.
4 Revista Chamada da Meia-Noite. Agosto nº 8. Ano 25, p. 4,5.
5 História da Filosofia. Will Durante. Coleção: Os Pensadores. Nova Cultural. 1991.
6 O Anticristo. Friederich Nietzsche. Classicos Econômicos Newton. 1992, p. 52.
7 O Anticristo. Friederich Nietzsche. Classicos Econômicos Newton. 1992, p. 52.
8 O Anticristo. Friederich Nietzsche. Classicos Econômicos Newton. 1992, p. 24.
9 O Anticristo. Friederich Nietzsche. Classicos Econômicos Newton. 1992.
10 O Julgamento de Nuremberg. Joe D. Heydecker e Johannes Leeb. Editorial Ibis Ltda. 1962. 6º edição, p. 254.
11 O Julgamento de Nuremberg. Joe D. Heydecker e Johannes Leeb. Editorial Ibis Ltda. 1962. 6º edição, p. 269,270.
Biblia Revista e Corrigida. João Ferreira de Almeida. Edição de 95. SBB.