Tudo começou com Dawn Brown e seu polêmico “Código de Da Vinci”. Nesta ficção a Opus Dei aparece como uma organização obsura que tenta ocultar a verdade sobre fatos do cristianismo primitivo apelando até mesmo para o homicídio. Claro que o livro mereceu a crítica do cristianismo em geral por ser uma evidente distorção histórica, mas o fato de surgir o nome dessa organização, gerou um efeito dominó que culminaria em uma série de livros, criticando esta “prelazia particular do papa” de todos os modos. E agora, não se tratava mais de ficção de alguma mente fértil, mas de ex-membros da instituição, que após uma convivência dolorosa dentro da mesma, resolveram romper seu silêncio e revelar o que havia por trás da cortina e as feridas da alma.
Dentre os títulos surgidos o mais recente “Opus Dei – Os bastidores” foi um verdadeiro tsuname para a organização, um livro denúncia onde ex-membros tem como que declarado guerra a Opus. Um dos autores, o professo Jean Lauand e professor da Faculdade de Educação da USP e foi numerário por 35 anos.
Também outro que merece ser citado é “Opus Dei – a falsa obra de Deus – Alerta às famílias católicas”. Neste livro a mãe de um numerário fala de resgatar seu filho das garras da seita. A estrutura do livro foi copiada de um manual para pais que tiveram seus filhos seqüestrados pelas drogas. Um dos capítulos do livro tem o sugestivo título “Alerta ! Meu filho foi capturado por eles ? Que posso fazer ?” É fácil perceber o tom de revolta da autora, Elizabeth Silberstein, que publicou o livro às suas próprias custas.
De grande impacto também foi o site opus livre, criado por e para ex-numerários, onde estes podem contar suas dolorosas experiências e expor suas críticas ao Opus Dei. Nele a obra tem sido dissecada completamente e seus aspectos negativos foram revelados por vários prismas.
O que é a Opus Dei ?
Na Wikipédia, enciclopédia livre da Internet, temos esta explicação sobre o que é a Opus Dei:
“O Opus Dei (Obra de Deus, em latim) é uma instituição da Igreja Católica — uma Prelatura pessoal, assim declarada pelo Papa João Paulo II, — conforme o Código de Direito Canônico — que diz ter como finalidade contribuir para a missão evangelizadora da Igreja (Católica). O Opus Dei foi fundado por Josemaría Escrivá em 2 de outubro de 1928. A sede da Prelatura do Opus Dei encontra-se em Roma junto com a Igreja do Prelado, atualmente o Bispo D. Javier Echevarría.
O Opus Dei tem como lema “encontrar Deus no trabalho e na vida quotidiana”. Procura a santificação de cada cristão no trabalho quotidiano, nas tarefas de cada dia. Uma profunda tomada de consciência da chamada universal à santidade e do valor santificador do trabalho diário. Para essa finalidade a Prelatura proporciona os meios de formação espiritual e atendimento pastoral aos próprios fiéis e também a muitas outras pessoas.
Através desse atendimento pastoral, as pessoas são estimuladas a levar à prática os ensinamentos do Evangelho, mediante o exercício das virtudes cristãs e a santificação do trabalho . Santificar o trabalho significa, para os fiéis da Prelatura, trabalhar segundo o espírito de Jesus Cristo: realizar as suas tarefas com perfeição, para dar glória a Deus e servir os outros, e deste modo contribuir para santificar o mundo, tornando presente o espírito do Evangelho em todas as atividades e realidades temporais.
Os fiéis da Prelatura realizam pessoalmente a sua tarefa evangelizadora nos vários âmbitos da sociedade em que estão inseridos. Por conseguinte, o trabalho que levam a cabo não se limita a um campo específico, como a educação, o cuidado de doentes ou a ajuda a deficientes. A Prelatura propõe-se recordar que todos os cristãos, independente da atividades secular a que se dediquem, devem cooperar na solução cristã dos problemas da sociedade e dar testemunho constante da sua fé.”
Esta é uma descrição positiva, provavelmente escrita por alguém ligado à ela. Mas agora certos aspectos mais nocivos tem sido exposto e estes propósitos nobres apresentam uma face obscura que tem valido a crítica de muitos tanto dentro como fora da Opus Dei. A própria descrição aspirada por seu fundador, José Maria Escrivã, era uma estratégia para “influenciar por trás dos bastidores”. Bastidores estes agora focados por seus ex-membros.
Como funciona a Opus Dei
O seu objetivo principal consiste em infiltrar o mundo do trabalho, especialmente os centros de poder político e as grandes empresas públicas e privadas, com indivíduos totalmente fiéis ao Opus Dei, e comungando na ideologia ultra-conservadora desta seita.
Conta três tipos de membros: numerários, supra-numerários, e agregados. Os numerários, que se comprometeram a manter uma vida de pobreza, castidade e obediência, têm geralmente uma sólida formação universitária ou, alternativamente, podem ser herdeiros de grandes fortunas; vivem em casas da Obra, são celibatários, e contribuem com a totalidade do seu ordenado para a seita, atribuindo-lhes esta algum dinheiro de bolso para as despesas diárias mínimas, nomeadamente a alimentação.
Nestas casas, assim como nas residências universitárias de que o Opus Dei é proprietário, as violações de correspondência e as revistas aos quartos são rotineiras e consideradas normais.
Os numerários celebram as festas religiosas, e outras, com a sua seita (Natal, Páscoa, Ano Novo), não podendo comunicar nem sequer com a sua família sem autorização superior.
Os membros agregados são pessoas sem formação universitária, ou, mais raramente, licenciados que têm familiares a cargo. Não vivem alojados em casas da seita, mas assumem os mesmos compromissos que os membros numerários, efetuando também o mesmo trabalho apostólico. Alguns deles têm também como funções efetuar reparações (de graça!) nas casas da Opus Dei.
Os supra-numerários são pessoas casadas que constituem a face socialmente mais visível da organização. Apesar de lhes ser permitida uma menor disponibilidade para o trabalho apostólico, estes membros participam semanalmente em encontros com responsáveis religiosos, que asseguram a fidelidade destes membros por diversos meios, nomeadamente através da confissão. Também contribuem com importantes quantias monetárias. Todos os membros estão obrigados a freqüentar a missa diariamente, a rezar o rosário, e a efetuar leituras religiosas. A auto-flagelação com uma corda e o uso de cilícios são algumas das formas de mortificação encorajadas. Os simpatizantes do Opus que não queiram ou não possam ser membros têm o estatuto de cooperadores. Entre estes, os católicos podem participar nas ações de formação, nomeadamente nos retiros.
O Opus Dei atua captando adolescentes em colégios católicos. Estes são inicialmente aliciados para participar em atividades em clubes católicos de tempos livres, onde jamais se menciona o Opus Dei. Mais tarde, os mais brilhantes de entre estes jovens são convidados para participar em retiros de fim-de-semana, onde a doutrinação é mais severa. Os jovens são levados a acreditar que só há felicidade no serviço de Deus, e que a única maneira carreta de servir «Deus» é dentro do Opus Dei.
O papel da família é rapidamente suprido pelo «diretor espiritual», que, sendo também o confessor, controla a vida privada. Aos dezoito anos, o jovem futuro tecnocrata está condicionado e pronto para se comprometer com a Obra. O seu futuro será servir. Uma parte muito importante da estratégia do OD passa portanto pelo ensino. A Universidade de Navarra, em Pamplona, foi já reconhecida pelo Estado espanhol. Em Portugal, o Opus Dei controla através da Cooperativa Fomento os colégios Horizonte (Porto), Cedros (Gaia), Mira-Rio e Planalto (ambos em Lisboa), o Opus Dei vangloria-se de contar já com cerca de 80 000 membros, oriundos de nove dezenas de países, e dos quais apenas 1 600 são sacerdotes. Apesar da sua enganadora (porque discreta) boa imagem nos países latinos, o Opus Dei sofreu recentemente (1997) uma humilhação pública ao ser considerada pelo Parlamento belga uma organização sectária, a par da Igreja de Cientologia, das Testemunhas de Jeová, e da Igreja Universal do Reino de Deus. Em Espanha, o OD gozou de enorme influência durante o período final do franquismo. Efetivamente, um dos últimos governos de Franco contava, entre os seus dezenove ministros, doze membros do Opus Dei.
Sua rede de influência
É considerado um órgão de grande influência dentro do catolicismo e é acusado de constantemente manipular a política do Vaticano. Os jesuítas espanhóis acusaram seu fundador de estar criando uma espécie de “maçonaria dentro da Igreja”. Eles alegam ter milhões de cooperadores diretos e indiretos e seu patrimônio é avaliado em US$ 2,8 bilhões.
A Opus Dei possui também uma editora, a Quadrante, fundada em 1966 que tinha por finalidade difundir o pensamento da obra. Todo membro da Opus é de alguma forma envolvido na expansão da editora, muitas vezes de forma opressiva. A venda de assinaturas anuais de livros funcionou durante muito tempo de forma semelhante à venda da literatura da Sociedade Torre de Vigia, com cotas e pressão quando as cotas não eram atingidas, dando a este trabalho um caráter espiritual.
A Universidade de Navarra pertence à Opus Dei e dá muita ênfase à formação jornalística. Uma das frases de Escrivã era: “Vamos embrulhar o mundo em papel jornal”. No Brasil, a influência de Navarra vem através de Carlos Alberto Di Franco, membro numerário da Opus Dei, representante da Escola de Comunicação dessa universidade e diretor Máster em Jornalismo. Sua coluna no jornal Estado de São Paulo é bastante conhecida. Ele tem sido bastante abordado desde que foi revelada sua ligação com a Opus Dei. Seu curso já formou diversos jornalistas e entre o corpo docente é formado por membros de Faculdade de Navarra. Atualmente fala-se de sua ligação com o Governador de São Paulo Geraldo Alckmin
Também é preciso citar o Colégio Catamarã, escola administrada por pessoas ligadas à Opus Dei. Os supernumerários são incentivados a matricular seus filhos neste colégio e se não o fazem sua fidelidade à Opus Dei é questionada. Também é lá que a organização busca recrutar novos adeptos. Isto é feito de modo muito discreto, a ponto da ligação entre o Colégio e Opus ser difícil de apontar. De qualquer forma este é um de seus pontos de influência no Brasil.
É a Opus Dei uma seita ?
Uma definição geral de seita seria “Doutrina ou sistema que diverge da opinião geral e é seguido por muitos”. Mas uma outra definição que se ajusta mais ao nosso caso pode ser “comunidade fechada, de cunho radical”. Esta última mais condizente com o caráter da Opus Dei.
Mas mais importante do que o sentido semântico, a natureza de uma seita é o que deve ser mais precisamente analisado.
O Opus Dei vangloria-se de contar já com cerca de 80 000 membros, oriundos de nove dezenas de países, e dos quais apenas 1 600 são sacerdotes. Apesar da sua enganadora (porque discreta) boa imagem nos países latinos, o Opus Dei sofreu recentemente (1997) uma humilhação pública ao ser considerada pelo Parlamento belga uma organização sectária, a par da Igreja de Cientologia, das Testemunhas de Jeová.
Na verdade, a idéia de incluir a Opus Dei na categoria de seita não partiu de apologetas evangélicos. Trata-se de uma iniciativa dos próprios católicos, precisamente de pessoas que participaram dela como Dario Fontes, Jean Lauand e Macio Fernandes da Silva, ex numerários autores do livro “Opus Deis – Os bastidores”. Utilizaram-se dos mesmos critérios para assim categorizar outras seitas, como a Sociedade Torre de Vigia por exemplo.
Os pontos para se identificar uma seita são quatro: recrutamento, programação, retenção e resultados. Para esses pesquisadores, a Opus Dei preenche facilmente estas categorias.
Recrutamento
Ao “recrutar” alguém, ao incita-lo a participar da Opus Dei, as pessoas não são informadas de tudo imediatamente. Ela se apresenta como uma entidade com finalidades científicas, um clube de jovens. O processo que envolve o aspecto religioso é muito lento. A pessoa vai aos poucos participando de palestras proferidas por um padre da Opus Dei até ser definitivamente envolvida. Quando chega a hora, então ela é chamada a “apitar” designação usada quando a pessoa se submete aos votos de pobreza, castidade e obediência da ordem.
Para isso, alguém devidamente preparado fala que percebeu sua vocação, que ele não pode fugir dela, que ele tem que aceitar seu chamado, etc. Depois de decidir é instruído a não falar nada aos seus pais sobre a sua decisão, pois estes não compreenderiam. Com o tempo ele irá mudar para um dos alojamentos da Opus e começara a conhecer realmente as implicações pertinentes à sua decisão.
Programação
As seitas praticam um tipo de isolamento intelectual, acompanhado de doutrinação intensiva. A literatura da seita ganha papel central e a citação da Bíblia é apenas fora de contexto ou de passagens isoladas. Na Opus Dei a literatura do fundador, José Maria Escrivã é colocada certamente acima dos valor das Escrituras.
O bombardeio contínuo dos seus conceitos, a disciplina rigorosa, a constante atividade e as mortificações impedem o novato de refletir sobre tudo aquilo que está ouvindo. Todo senso crítico é abafado. O pensamento independente é condenado. O indivíduo vai sendo programado e moldado conforme as intenções do grupo.
Levando em conta que boa parte daqueles que ingressam na Opus Dei são jovens em meio ao período de adolescência, com a personalidade em formação, esta programação adquire uma eficácia ainda maior.
Retenção
Não é incomum o membro de uma seita sentir-se incomodado em dado momento com certos aspectos da mesma. Quando dentro da Opus Dei um membro vai questionar seu superior a cerca de algum ponto questionável, é colocado em xeque os motivos por trás de quem expôs as contradições. A conversa é desviada para outros pontos controversos e deixa-se o questionamento sem uma resposta clara e definitiva.
Devido ao controle daquilo que um membro pode ou não ouvir, pode ou não ler, informações que possam questionar a autenticidade do conteúdo da obra é isolado, não restando a ele senão argumentos favoráveis. Como os ex-membros são “demonizados” e o contato com eles proibido, os internos acabam ficando sem parâmetros de comparação.
Um medo de tudo e de todos que se oponha a obra é aplicado constantemente aos numerários. Qualquer palavra contrária é continuamente repreendida e a menor desobediência é seriamente reprimida. A ameaça de expulsão é sempre um espectro que ronda e a isso é conferido um caráter de danação eterna.
Resultados
O membro da Opus Dei, como em outras seitas, torna-se dependente dela, de uma tal forma que um desligamento passa ser a pior coisa que poderia vir a lhe acontecer. Ele doou seus bens para a obra, foi isolado da família e amigos, tem todas as suas decisões atreladas a ela. Embora ficar possa ser dolorido, a idéia que ele tem é que sair é muitas vezes pior. Ela está presa física e psicologicamente.
O resultado é desorientação, depressão, ansiedade e estresse. Muitos começam a viver a custa de remédios receitas por um médico da Opus Dei. Muitos ainda adquirem um comportamento neurótico e psicótico podendo chegar a tendências suicidas.
Há uma exploração financeira (ex-membros chegaram a confessar que na juventude pegavam dinheiro escondido da mãe para das a obra), mental e psicológica. Esta visão não se trata de uma crítica externa, de algum inimigo da obra, ou mesmo produto da ficção de Dawn Brown. Mas de pessoas que afirmam ter sido exploradas e manipuladas pela Opus Dei. Isto confere um peso importante às colocações diante do número de testemunhos.
Opus Dei à luz da Bíblia
Além dos erros bíblicos e teológicos decorrentes do próprio catolicismo no qual se encontra inserido, a Opus Dei foi somando desvios que levaram muitos dos seus próprios ex-membros a classifica-la de “seita”. A crítica a este movimento nasceu em seu próprio seio, o que já indica sérias distorções. Quando um cristianismo distorcido aponta distorções em um de seus sub grupo, ou este segmento está corrigindo seus erros ou enveredando por outros ainda mais grosseiros.
Santidade e Ascetismo
A Opus Dei instituiu um comportamento ascético para os seus membros, que não garante de forma alguma a santidade bíblica. Enquanto a santificação neo testamentária é o resultado da salvação provida por Deus através do seu Espírito, o ascetismo é a tentativa de santificação por meios humanos. É a carne tentando aperfeiçoar a carne. É produto do paganismo, não do cristianismo. É fruto do neopletonismo e sua influência sobre a Igreja e não filho do evangelho.
Mas a “Obra de Deus” foi mais longe do que o catolicismo em geral. Enquanto este exigia certas coisas apenas dos seus clérigos ou de uma classe monástica que vivia isolada do mundo, esta organização católica luta por nivelar seus membros por este padrão. O lema de “propagar a santidade no meio do mundo” é na verdade uma exigência de ascetismo para os seus membros, que longe de leva-los a uma santidade cristã, os torna indivíduos desajustados e psiquicamente doentes, conforme os testemunhos expostos no livro Opus Dei – Os Bastidores, editado pela versus.
A Opus Dei e o celibato
Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; (1 Tm 4.1-3)
O celibato clerical, imposto dogmaticamente pelo Igreja Católica ao seu clero a partir da reforma de Cluny, dá um passo a mais dentro da Opus Dei. Não se limita aos clérigos, mas toda a classe dos numerários faz votos de pobreza, obediência e castidade. É o ideal ascético dos monges, só que ao invés de voluntários isolados dentro de um mosteiro, estão pessoas ativas dentro de uma sociedade fortemente sexualizada e por isso vivendo sob fortes pressões em suas inclinações naturais.
O livro “Memórias Sexuais de um Numerário” é o resultado de alguém que viveu numa condição esmagadora, contrária à sua natureza humana. Geralmente são convidados a entrar na organização ainda muito jovens e são levados a fazer o voto de castidade. São proibidos de casar e as mulheres são proibidas até mesmo de participar de cerimônias de casamento, ainda que de membros da própria família. Um ex-membro inclusive afirma que teve que usar um macacão antimasturbação para tentar refrear a prática. Essa forma de buscar a santidade na área sexual nada tem de bíblica. É o velho ascetismo humano em evidência.
A exigência de celibato não é bíblica. Paulo disse claramente que devido às tentações que cercam o ser humano, estes devem Ter seu próprio marido e esposa (1 Co 7.2) e que estes não devem privar-se fisicamente um do outro a não ser por consentimento mútuo (7.3,4). Embora elogie o estado de solteiro, diz que cada um deve ficar com o Dom que recebeu de Deus (7.11). Jesus fala em eunucos por escolha, isto é , pessoas que optariam pelo celibato, frizando porém que nem todos podem receber esta conceito mas só a quem fosse concedido (Mt 19.11). Por fim ainda, Paulo classifica a proibição do casamento como uma doutrina de demônios (1 Tm 4.1-3).
É importante dizer que a identificação do sexo com pecado não é bíblica. A relação sexual foi criada e abençoada por Deus, para ser desfrutada dentro do casamento (Gn 1.28-31). Celibato e santidade não são sinônimos. Os que fizeram votos de celibato muitas vezes acabam por cometer inúmeros pecados nesta área, porque se vêem impedidos por voto de cumprir a orientação de Deus em 1 Co 7.2, enquanto os não celibatários escapam a este perigo por desfrutarem da bênção do matrimônio.
Carregados de ordenanças humanas
Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.
Obedecer cegamente ao superior {…}» (Caminho, 914)
«No Apostolado, estás para te submeteres, para te aniquilares; não para impor o teu critério pessoal» (Caminho, 936
O voto de obediência a que estão sujeitos os numerários e supernumerários, criou para eles uma verdadeira camisa de força. Buscando criar um catolicismo praticante, criou um cristianismo farisaico de modo que muitos dos seus membros passaram a sofrer distúrbios mentais e muitos dos que deixaram o seu seio precisaram de tratamento psicológico para conseguirem se integrar novamente na sociedade.
O “sujeitai-vos uns aos outros no temor do Senhor” (Ef 5.21) é transmudado em uma sujeição mecânica cega e anulante, uma despersonalização sobre a qual muitos ex-numerários comentam após seu restabelecimento fora da organização. A Opus Dei procura produzir uma santidade por meios artificiais, cercando seus membros de inúmeros rituais e cerimônias diárias. Inclusive borrifar “água benta” na cama antes de dormir, a fim de evitar excitação sexual (o que evidentemente não funciona).
Um numerário não pode ir a lugar algum sem prévia autorização do seu diretor espiritual, inclusive visitar familiares. Muitos numerários e parentes de numerários guardavam magoas profundas porque foram separados de seus entes queridos em momentos muito importantes como casamento, nascimento de filhos, reuniões familiares em geral.
Um numerário não pode fazer o curso que bem entender. Terá que ter o aval de seu superior. Não pode ler qualquer livro. José Maria Escrivá lamentou quando a Igreja Romana aboliu o Index (lista de livros proibidos). Então ele disse que criaria seu próprio Index. E criou mesmo. Na Opus Dei existe uma classificação que vai de 1 a 6. Os classificados como 5 e 6 são terminantemente proibidos.
Os casos de violação de privacidade são muitos dentro da organização. Cartas, e-mails, tanto enviados quanto recebidos são primeiro lidos pelos superiores para depois seguir seu próprio rumo. Muitos ex-numerários inclusive analisaram se deveriam ou não entrar com processo contra a Opus por violação de correspondência.
Como todos os membros tem obrigação de dizer ao seu confessor todos os mínimos pensamentos, eles são rigidamente monitorados e exortados a uma obediência plena. Qualquer palavra contra a obra, qualquer manifestação de crítica é classificada como rebeldia e o indivíduo fica na mira. Ocorre uma despersonalização já confessada por muitos ex-membros que viveram muitos anos sob esta pressão.
Ainda uma outra pressão que é feito constantemente sobre os membros da instituição é quanto à venda de publicações. Estes sofrem constantes pressões para venderem assinaturas da Editora Quadrante. Embora o tom de obrigatoriedade tenha sido amenizado em tempos recentes, em períodos anteriores a fidelidade de um membro era medida pela quantidade de vendas que ele fazia para a editora. Quando não atingia uma cota era veementemente censurado por isto.
Sem sombra de dúvida esta forma de religiosidade se encontra minuciosamente descrita no texto em epígrafe. Sob o pretexto de humildade muitos são dominados ao bel prazer dos seus ditos superiores, instruídos numa compreensão carnal do que seja a santidade cristã. Enchendo seus membros de preceitos humanos para não tocar, não usar, não manusear, conquistam uma aparência de sabedoria, devoção, verdade, disciplina do corpo, que afinal são ineficazes contra os desejos da carne.
Auto flagelação
E eles clamavam a grandes vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, conforme o seu costume, até derramarem sangue sobre si.(1 Re 18.28)
A auto-flagelação foi uma prática obscura da Igreja, surgida de influências pagãs por volta do século IV e V. Ao invés de “pelo Espírito mortificar as obras da carne” (Rm 8.13) como ensina a Palavra de Deus, os auto-flageladores tentavam fazer isto por meio da dor física e castigos corporais. Não se tratava do “Espírito contra a carne (Gl 5.18-25), mas da “carne contra a carne”, e o resultado jamais poderia ser a santificação bíblica.
A idéia de que o homem precisa infligir dor física para se tornar mais santo, não provém das Escrituras, mas idéias errôneas, de tentativas humanas de se auto aperfeiçoar. Ao dizer “subjugo meu corpo e o reduzo à servidão”, Paulo falava de auto disciplina, não de auto castigo, de auto sofrimento. Seu posicionamento, aliás, é totalmente diferente. “Afinal de contas, nunca ninguém odiou a sua própria carne, antes a alimenta e sustenta…” (Ef 5.29).
Esta prática se espalhou amplamente dentro do cristianismo medieval e monástico. As mortificações faziam parte da devoção de inúmeros monges, clérigos e católicos, apesar de seu caráter anti bíblico e destruidor. Tornou-se um meio de auto-salvação, bem parecido com aqueles encontrados nas religiões pagãs. O auto-sofrimento purificador faziam parte da purificação do karma praticada pelos hindus. Esta prática chegou a uma tal popularidade no final da Idade Média que alguns grupos começaram a afirmar que este era o único caminho de salvação. E a Inquisição começou a perseguir este rito.
No século XVI, os jesuítas reacenderam a prática, especialmente no sul da Europa. Provavelmente, está foi a inspiração de José Maria Escrivã, ao fazer disto uma das disciplinas da Opus Dei. Embora Escrivá tenha dito que “Onde não há mortificação, não há virtude” (Caminho, 180) e “Bendita seja a dor. Amada seja a dor. Santificada seja a dor…Glorificada seja a dor!” (Caminho, 208), isto não passa de raciocínio humano enganoso, não da Palavra de Deus. Santificado e glorificado seja o nome do Senhor e não a dor física auto inflingida em rituais medievais.
Os numerários da instituição usam diariamente um cinto de ferros com pontas, chamado de cilício, por pelo menos duas horas, para “infligir dor à sua carne e mortificar-se”. Esta forma de atitude não provém da Bíblia, nada mais é do que conceitos humanos a respeito do caminho de santificação. É de fato uma atitude tola diante da Palavra: “O homem bom cuida bem de si mesmo, mas o cruel prejudica o seu corpo” (Pv 11.17). Flagelar-se não é cuidar bem de si mesmo é crueldade.
Além do cilício outra disciplina usada pela Opus Dei é um chicote, utilizado para flagelar as nádegas nuas uma vez por semana, enquanto são recitadas rezas. Embora estejamos acostumados a coisas deste tipo dentro de certas seitas islâmicas e até faça parte de alguns rituais do catolicismo popular filipino, jamais se pensou encontrar tal tipo de doutrina e prática dentro de uma organização católica do mundo ocidental, respeitada e influente como a Opus Dei. Somente alguém “inchado em sua carnal compreensão” poderia produzir um desvio grave desses, tentando produzir santidade por meio antibíblicos e funestos como estes.
Ao ser questionado por tal prática, Carlos Alberto Di Franco respondeu que “o cilício é uma mortificação corporal ultratradicional na Igreja”. Só podia realmente apelar para o desgastado argumento da tradição, uma vez que não existe qualquer base neotestamentária ou bíblica para ela. Mais uma vez ressoa a condenação de Jesus sobre este desvio farisaico da verdadeira vida com Deus para se andar em preceitos criados pro homens Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. “Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. (Mc 7.8,9). Ultratradicional sim, mas apenas na Igreja Romana e não na bíblica e primitiva.
O que acontecerá com a Opus Dei
A capacidade do catolicismo de se esquivar de acusações e de formular defesas malabarísticas é muito conhecidos. O poder e a influência da Opus Dei são muito grandes e é improvável que se vá extinguir pr alguma ação do Vaticano, sem falar de que muitas destas práticas tiveram conivência do próprio papado, ciente com certeza desses descalabros.
É notório na manifestação desses ex-membros uma comparação do cristianismo opusdeístico com o cristianismo bíblico. Que através desse choque eles possam conhecer o Jesus do Novo Testamento e serem resgatados para a verdade do Evangelho.