Por Eguinaldo Hélio de Souza
Podemos enganosamente pensar que só porque amamos uma pessoa jamais teremos conflitos com ela. Achamos que nossos sentimentos serão suficientes para evitar qualquer discordância, suportar todos os erros e agradá-la em tudo o que fizermos. Sabemos que não é assim.
O amor é sublime, mas não é onipotente. Ele é necessário, mas não é suficiente. Ele tem o poder de nos ligar a uma pessoa de modo muito especial. Com ele somos capazes de suportar muitas situações difíceis que com certeza fariam desistir quem não ama. E ainda assim, em alguns momentos vamos nos perguntar porque apesar de todo o nosso amor, nem sempre as coisas vão bem. E a resposta é que além de amor, precisamos de sabedoria.
Não há dúvidas de que os pais amam seus filhos, provavelmente muito mais do que amam outras pessoas e muito mais do que outras pessoas os amam. Também os filhos naturalmente amam seus pais. E apesar disso testemunhamos diariamente amargos conflitos entre pais e filhos que se amam.
Assim é entre pais e filhos. Assim é entre maridos e esposas. O amor não basta, mesmo quando é grande, mesmo quando é perfeito.
Quantos pais que amaram seus filhos olham para trás, reconhecem que em muitos momentos não agiram adequadamente. Agora com a experiência dos anos percebem que lhes faltou sabedoria em algum momento. Não fizeram a coisa certa, não disseram a coisa certa, não calaram no momento certo. Se hoje tivessem a oportunidade de voltar carregando a sabedoria adquirida pelos anos, eles o fariam e com certeza evitariam muitos erros de relacionamento. Seriam mais felizes e teriam filhos mais felizes, muitas dores seriam menores ou sequer existiriam. Não lhes faltou amor, mas lhes faltou sabedoria em muitas ocasiões.
No casamento não é diferente. Nem sempre ferimos porque não amamos. Às vezes ferimos porque não sabemos o que dizer, o que fazer. Ou o que não fazer. Às vezes julgamos que o outro não nos ama, ou pelo menos não nos ama do jeito que gostaríamos. E isso, na maioria das vezes é um engano. Não falta amor ao outro, mas pode faltar sabedoria. Sabedoria para fazer a coisa certa que nos toca, para dizer as palavras que precisamos ouvir, para agir de um modo que se encaixe em nossa necessidade.
O marido que muitas vezes trabalha demais para dar o melhor à família, ama demais uma família que se sente abandonada por ele. Com o tempo ele aprende que o que ela mais quer é estar com ele e não ter coisas dele.
A mulher que muitas vezes sufoca seu marido pela reclamação da ausência, termina por aborrecê-lo com palavras agressivas e murmurações aparentemente sem fundamento. Ela age assim justamente porque o ama, embora sua falta de sabedoria no falar e no agir possa aparentar o contrário.
Conhecer o outro exige tempo, atenção. Saber “apertar os botões certos” que farão o outro feliz não se aprende da noite para o dia e nem vem junto com o amor que sentimos. O amor que sentimos muitas vezes é só isso, o amor que sentimos e nada mais. Ele nos dá o desejo de fazer o outro feliz, mas não nos dá a sabedoria para isso. Além do impulso, precisamos de direcionamento. A paixão nos impulsiona, mas é a razão que nos guia.
Essa sabedoria depende de duas coisas. Tempo e dor. Sim. Nada se aprende sem tempo e nada se aprende sem dor. São nossos fracassos ao longo dos anos que nos ensinarão como de fato ser feliz com o outro fazendo-o feliz também. Passaremos por experiências amargas que nos levarão a entender o coração do outro. Erraremos antes de acertarmos. Talvez provoquemos lágrimas antes de aprendermos a acender os sorrisos.
Se formos bons alunos o tempo será mais curto e a dor será menor. Do contrário, um longo tempo de dores desnecessárias nos espera. Nossa disposição em aprender, em entender o outro contribuirá de modo especial com esse aprendizado.
Saberemos o que dizer, quando dizer, quando não dizer. Saberemos que aquela raiva vai passar e que aquele momento só precisa de um abraço. Saberemos que nossa crítica precisa aguardar o momento certo e que o nosso pedido de perdão resolverá tudo. Saberemos que estar zangado conosco não é sinônimo de não amar. Saberemos que evitar incêndios é muito mais fácil do que apaga-los e por isso seremos cuidadosos. Saberemos, saberemos, saberemos. Coisas que ajudarão nosso amor a frutificar, pois não estaremos semeando entre espinhos.
Por fim, há algo sobre a sabedoria que precisamos aprender. Ela não é apenas fruto dos erros e do tempo. Ela é fruto de nossas orações:
Se vocês não souberem lidar com a situação por falta de sabedoria, orem ao Pai! É com muita alegria que ele os ajudará! Vocês serão atendidos e não serão ignorados quando pedirem ajuda (Tiago 1.5, 6 – A Mensagem)