Por Eguinaldo Hélio Souza
Diferente do que as pessoas em geral imaginam, a Bíblia fala muito sobre sexo. Ela fala do sexo entre marido e mulher, fala de prostituição, fala de adultérios consumados e evitados. Fala de homossexualidade, fala de lesbianismo, fala de voyeurismo, fala de estupro, fala de bestialidade. Fala de incesto, fala de traição, fala de carícias, fala dos prazeres que a vida sexual proporciona. Fala de bigamia, poligamia, concubinato. Fala sobre os desejos sexuais, sobre a sensualidade em geral, enfim, sobre práticas sexuais de diversas naturezas.
Isso porque, ao contrário do que muita gente pensa, as Escrituras não foram escritas por homens que viviam encerrados em mosteiros ou escondidos em cavernas. A inspiração divina não foi dada a pessoas reclusas, socialmente inaptas, estranhas. Eram cidadãos normais que participavam da vida cotidiana, tinham família, esposa, filhos e filhas. Conheciam a maldade e a bondade ao seu redor. Eram tentados como qualquer um de nós, carregavam as mesmas paixões.
Suas narrativas, leis, cânticos e poemas não falavam apenas de assuntos espirituais, divinos, celestiais, etéreos. Antes, descreviam a realidade deste mundo decaído, desta humanidade falível, dos relacionamentos conflituosos. Relatava os dilemas internos e externos da nossa existência. Descreviam situações reais de pessoas reais com seus problemas reais. Não apresentavam ficção e sim a dura realidade da vida, com todos os seus problemas e desvios.
As Escrituras falam de sexo, mas não só de sexo. Pois em um tempo passado houve uma geração que queria viver como se o sexo não existisse. A geração presente vive como se não existisse outra coisa. A Bíblia, com seu realismo equilibrado, jamais negou a existência das questões sexuais, mas também não fez do sexo, como queria Freud, a coisa principal da vida.
De qualquer forma, quem já leu de fato a Bíblia sabe que ela realmente fala muito sobre o assunto.
Todavia, diferente de nossa geração cuja mente parece entorpecida pelo deus eros, ou mesmo por súcubos e por íncubos, a Bíblia mostra o outro lado da questão.
Há regras para o sexo como para tudo na vida. Sem limites as pessoas caem nos abismos, morrem afogadas no mar revolto, são devoradas por feras ferozes. Ou eletrocutadas ou feridas por máquinas e ferramentas perigosas. Atos têm consequências, pois é impossível semear e não colher, viver sem cuidado e ainda assim caminhar em segurança. O bem viver tem seu preço. Sem padrões e sem balizas para os nossos passos nosso caminhar se transforma em morte. As tantas sinalizações e leis nas estradas não são prisões para nossa alma, não são ladrões da nossa liberdade. São avisos sobre a fragilidade da vida que insistem em dizer que ninguém pode fazer o que quer sem experimentar duras consequências. E ai de quem não respeitá-los.
Mas as pessoas querem viver como o sexo fosse uma prática sem regras, um prazer sem limites. Como escreveu Theodor Dalrymple, pela primeira vez na história, testemunha-se uma negação, em massa, de que as relações sexuais constituam uma prática que necessite de reflexão moral, ou que deva ser governada por restrições morais[1]. Proibindo de proibir o homem tem sido privado da segurança das regras e dos padrões que permitem usar com segurança e paz uma força tão poderosa quanto o sexo.
Por isso, ao mesmo tempo em que a Bíblia fala de sexo, ela mostra pessoas sofrendo quando fizeram mau uso dele. Ela conta de homens santos que erraram nesse aspecto e colheram seus amargos frutos. Ela apresenta um Deus que estabeleceu balizas para que a prática sexual se tornasse um meio de prazer e de alegria, não de dor e frustração. Deus deu ao ser humano o poder de gerar outro ser humano “a sua imagem e semelhança”. E poderes sem responsabilidades não podem manter uma civilização.
Na Bíblia temos revelado um universo moral onde não é o homem quem faz as regras, mas que precisa conhecê-las e obedecê-las se quer chegar bem ao seu destino. Ela mostra o mundo sexual em sua realidade, não a ficção hollywoodiana onde parece não haver consequências para nenhum tipo de perversão.
As poucas pressões sociais que ainda restam contra o chamado sexo livre são apenas o reflexo da realidade do mundo, onde está presente um Deus moral e real que sabe melhor que o próprio ser humano o que é melhor para o ser humano.
As leis humanas podem refletir as leis divinas ou não. Os hábitos humanos podem refletir os padrões divinos ou não. A cultura pode aceitar ou rejeitar as verdades das Escrituras. O que o ser humano não pode é negar e contrariar a realidade sem sofrer as devidas consequências. Ou aqui ou na eternidade.
De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau. (Eclesiastes 12.13, 14)